Título: Para analistas, BC cortará juros em até 0,75 ponto
Autor: Duarte, Patrícia; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 20/01/2009, Economia, p. 19

Desaceleração na economia preocupa autoridade monetária. Redução pode causar economia de até R$7,5 bi na dívida pública

BRASÍLIA e RIO. A freada abrupta da atividade econômica, que começou no fim de 2008, vai levar o Banco Central (BC) a baixar os juros básicos amanhã, após quase 15 meses. Na avaliação do mercado, o corte ficará entre 0,5 e 0,75 ponto percentual, segundo mostrou a pesquisa Focus divulgada ontem, que ouve cerca de 80 instituições financeiras no país toda semana. Hoje, a Selic está em 13,75% ao ano e, mesmo com as reduções esperadas, continuará sendo uma das maiores do mundo. Para os especialistas, a autoridade monetária estará mais preocupada com o ritmo da economia do que com a inflação, que já vem dando sinais claros de recuo.

- A dúvida é o tamanho da desaceleração da atividade econômica. A inflação é consequência - disse o economista-chefe do West LB, Roberto Padovani, para quem o BC vai reduzir a Selic para 13% amanhã.

A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para calibrar a inflação e deixá-la o mais próximo possível do centro da meta que, neste ano, é de 4,5% pelo IPCA. Com os juros maiores, o crédito fica mais caro e, assim, segura o consumo e os preços. Com a crise internacional, porém, os empréstimos encareceram bastante, afetando o ritmo da economia.

Pelo Focus, a expectativa é que o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) cresça apenas 2% neste ano, quase um terço a menos do esperado para 2008. Por isso, na avaliação dos especialistas, o BC reduzirá mais os juros, para evitar um desempenho pior da economia.

Segundo o Focus, a maioria aposta no corte menor da Selic amanhã, de 0,5 ponto. Já os economistas que mais acertam - chamados de Top 5 - acreditam numa redução mais agressiva agora, de 0,75 ponto percentural. Eles se baseiam nos recentes dados econômicos, como a queda de cerca de 5% da atividade industrial e o nível de emprego. Só em dezembro, o país perdeu 655 mil empregos formais, recorde histórico.

Apesar da esperada redução na Selic, o Brasil continuará entre os países com os maiores juros no mundo. Em termos reais, descontando a inflação, a taxa ficará entre 8% e 9%, dependendo do corte que virá. Vários países cortaram seus juros devido à crise. É o caso dos EUA, onde hoje a taxa é de 0%.

Bovespa cai 1,3% em dia de poucos negócios

No Brasil, baixar os juros também ajuda nas contas públicas, porque diminui a remuneração paga pela dívida. Segundo o economista-chefe do banco Fator, José Francisco Gonçalves, a cada 0,25 ponto percentual a menos na Selic, a economia na dívida pública é de cerca de R$2,5 bilhões em um ano. Ou seja, o Copom pode diminuir o custo dos débitos entre R$5 bilhões e R$7,5 bilhões, dependendo do corte que adotar. Para ele, o Copom reduzirá a Selic em 0,5 ponto amanhã, mais por conservadorismo do que pelo cenário macroeconômico.

Em um dia de poucos negócios, devido ao feriado de Martin Luther King nos EUA e na véspera da posse de Barack Obama, a Bolsa de Valores de São Paulo caiu 1,30%, para 38.828 pontos, movimentando R$2,826 bilhões. A quantia, inchada pelo vencimento do mercado de opções de ações, de R$1,18 bilhão, ficou abaixo da média diária do mês, de R$3,8 bilhões. Já o dólar caiu 0,47%, para R$ 2,332. O diretor da XP Investimentos Rossano Oltramari disse que os investidores estão na expectativa de um pronunciamento mais otimista de Obama. As ações da Redecard foram destaque, com alta de 2,25%, diante de rumores de que o Itaú comprará a fatia do Citibank na empresa, de 17%.

No câmbio, o volume de negociação foi de US$593 milhões. O Banco Central vendeu US$66 milhões à vista, a R$2,3301, e fez a rolagem de US$2,5 bilhões em contratos de swap cambial (em que troca a variação do dólar por uma taxa no futuro) que venceriam em 2 de fevereiro.