Título: Crise pesa na balança
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 03/01/2009, Economia, p. 17

País teve em 2008 superávit comercial de US$24,7 bi, 38% menor que o de 2007 e o mais baixo desde 2002.

Abalança comercial brasileira fechou 2008 com um superávit de US$24,735 bilhões, o menor resultado desde 2002, quando o saldo ficou em US$13,1 bilhões. Em relação ao superávit de 2007, de US$40,032 bilhões, a queda foi de 38,2%. Esse desempenho contribuiu para que o total exportado em 2008, de US$197,942 bilhões, ficasse 2% abaixo da meta estipulada pelo governo para o ano, de US$202 bilhões.

A crise financeira mundial - que reduziu a demanda global por produtos e reduziu os preços das commodities no fim do ano - também contribuiu para esse resultado. Outro fator foi a forte valorização do real frente ao dólar até setembro, estimulando o aumento das importações, que ficaram mais baratas. Esse ciclo só foi interrompido com o recrudescimento da turbulência nos mercados, que causou a elevação da moeda americana.

- É claro que a crise financeira mundial, que atingiu fortemente os resultados do fim do ano do comércio exterior, ajudou a reduzir o superávit - afirmou Welber Barral, secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).

A situação em 2009 tende a ser ainda pior, por causa da crise mundial. Barral sequer arriscou fazer uma previsão do resultado das exportações deste ano:

- O ano de 2009 será muito difícil, principalmente em relação aos países desenvolvidos. O exportador brasileiro terá de ter bastante imaginação para diversificar as exportações e ganhar mercados, e o governo terá de atuar para que o país ganhe competitividade.

Apesar da desaceleração das exportações no fim do ano, o total vendido no exterior ficou 23,2% acima das vendas externas realizadas em 2007 (US$160,649 bilhões). As importações em 2008, por sua vez, somaram US$173,207 bilhões, montante 43,6% superior aos US$120,617 bilhões gastos no ano anterior.

A meta oficial de exportações, que acabou não sendo atingida, foi a quarta do ano. Sua última atualização ocorreu em setembro - antes do agravamento da crise. A primeira meta para 2008 foi anunciada em novembro de 2007 e estava em US$172 bilhões. Em março o valor foi elevado para US$180 bilhões e, em julho, para US$190 bilhões.

O estrago maior foi em dezembro. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, as exportações somaram US$13,818 bilhões, 2,9% a menos que em dezembro de 2007, quando as vendas totalizaram US$14,231 bilhões. No entanto, ao comparar a média diária exportada, a queda foi ainda maior: de US$711,6 milhões em dezembro de 2007 para US$628,1 milhões, uma redução de 11,7%.

Setor acredita que 2009 será difícil

A despeito desse cenário, Barral comemorou os resultados. Ele afirmou o Brasil está melhor do que outros países. Segundo os dados de novembro, o Chile, por exemplo, registrou queda de 20% nas vendas externas. As exportações da Argentina caíram 5,8% e as da China, 2,2%. No mês, o Brasil expandiu suas vendas em 5%.

- O Brasil acertou ao diversificar sua pauta de exportações e seus mercados - disse o secretário de Comércio Exterior, lembrando que, na maior parte dos casos, a recente valorização do dólar compensou a queda das commodities com folga.

Para José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), os resultados de 2008 foram excepcionais:

- Não atingimos a meta, mas ninguém, no início do ano passado, acreditava que fecharíamos 2008 com quase US$198 bilhões exportados.

Ele, contudo, admite que 2009 será um ano difícil. Apesar da valorização do dólar, que dá mais competitividade para os produtos brasileiros, Castro estima que as exportações deste ano deverão ser US$20 bilhões menores que as de 2008. As importações, previu, sofrerão queda de US$15 bilhões, sempre lembrando que, com essa volatilidade, fica muito difícil fazer previsões, uma vez que o cenário muda a cada dia. Ele não descarta, inclusive, que o saldo seja maior neste ano.

- O fato é que agora, com a atual cotação do dólar, estamos mais competitivos, mas, infelizmente, estamos também sem mercado comprador.

PACOTE DÁ SUBSÍDIO À HABITAÇÃO PARA BAIXA RENDA, na página 18