Título: Obama pede socorro urgente
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 09/01/2009, Economia, p. 23

Presidente eleito dos EUA faz apelo dramático para Congresso aprovar pacote de ajuda à economia.

Opresidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, traçou ontem um retrato tenebroso, mas bastante preciso, da situação econômica do país, ao apresentar as principais iniciativas do pacote econômico de cerca de US$800 bilhões que enviará ao Congresso. Ao mesmo tempo, ele exortou os parlamentares a agirem com muita urgência argumentando que, se houver demora, surgirá o risco de que "a nossa nação se afundará mais profundamente numa crise que, em determinado ponto, poderemos não ter mais a capacidade de reverter".

Obama enumerou os principais pontos frágeis, lembrando que quase dois milhões de empregos já foram perdidos, e antecipou que hoje será divulgado o índice mais recente que, segundo ele, mostrará que a perda atingiu agora o nível mais alto desde a Segunda Guerra Mundial.

- Eu não acredito que seja tarde demais para mudar o rumo, mas será tarde demais se não realizarmos uma ação dramática o mais rapidamente possível. Se nada for feito, essa recessão vai se prolongar por anos. O índice de desemprego poderá chegar a dígitos duplos. Nossa economia poderia ficar US$1 trilhão abaixo de sua capacidade total. Para encurtar, uma situação ruim poderia tornar-se dramaticamente pior - alertou Obama.

Wall Street, o governo e o Congresso foram apontados por ele como os principais culpados pela situação. Obama disse que os políticos gastaram o dinheiro dos contribuintes "sem bom senso ou disciplina, e muito frequentemente se preocuparam em marcar pontos políticos em vez de resolver os problemas". E prometeu:

- Em vez de políticos ficarem repartindo dinheiro por trás de um véu de segredos, as decisões sobre onde investiremos serão exibidas de forma transparente. Cada americano poderá cobrar responsabilidade de Washington a respeito dessas decisões indo à internet para ver como e onde os dólares de seu Imposto de Renda estão sendo gastos.

Famílias terão alívio de US$1 mil

Obama disse que oferecerá US$1 mil em redução de impostos para famílias de classe média e aumentará a eficiência da energia em milhões de casas americanas, criando empregos e estimulando a economia.

- Para que as pessoas gastem novamente, 95% das famílias de trabalhadores vão receber US$1 mil em redução de impostos, a primeira fase que eu prometi durante a campanha e que agora estará incluída em nosso próximo orçamento - disse.

Obama jogou a responsabilidade futura sobre os ombros dos deputados e senadores:

- Exorto o Congresso a se mexer o mais rapidamente possível em nome do povo americano. Cada dia que esperarmos ou ficarmos apontando dedos acusadores ou nos arrastando em demoras, mais americanos perderão seu emprego. Mais famílias perderão sua poupança. Mais sonhos serão adiados ou negados. E a nossa nação se afundará mais profundamente numa crise que, em determinado ponto, poderemos não ter mais a capacidade de reverter.

Segundo o presidente eleito, a essa altura não há outra saída senão o governo injetar dinheiro e confiança:

- Não podemos depender só do governo para criar empregos ou crescimento de longo prazo. Mas neste momento particular só o governo pode fornecer o impulso de curto prazo necessário para nos tirar de uma recessão tão profunda e severa. Só o governo pode romper os círculos viciosos que estão debilitando a nossa economia.

A primeira reação foi imediata. Nancy Pelosi, a presidente da Câmara, anunciaria logo depois que não haverá o tradicional recesso do Congresso na terceira semana de fevereiro (que começa no dia 16, feriado do Dia dos Presidentes), caso o pacote de Obama não tenha sido aprovado até então:

- Se não tivermos essa legislação até a véspera do recesso, não haverá recesso. Não iremos para casa sem o pacote de recuperação econômica.

Obama alertou os americanos que a recuperação "não será fácil e nem acontecerá da noite para o dia" e disse que é muito provável que "as coisas poderão piorar antes de melhorar".

- Isso dá mais razão ao fato de que o Congresso precisa agir sem demoras. Sei que o tamanho desse plano (US$800 bilhões) é sem precedentes, mas igualmente sem precedentes é a gravidade de nossa situação. Já tentamos o enfoque do esperar para ver, em relação aos problemas, e foi isso que ajudou a nos levar a essa situação.