Título: Produção de carros recuou 54% em dezembro
Autor: Segalla, Vinícius; Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 09/01/2009, Economia, p. 25

Brasil fecha 2008 como o 5º mercado de veículos no mundo. Em dezembro, indústria dispensou mais 3 mil empregados.

SÃO PAULO. A antecipação das férias coletivas de fim de ano pelas montadoras, para reduzir os estoques após dois meses seguidos de forte queda nas vendas - 11% em outubro e 26% em novembro -, fez a produção de veículos no país despencar. Balanço divulgado ontem pela Anfavea, a associação que reúne os fabricantes do setor, mostra que em dezembro 102.053 veículos deixaram as linhas de montagem das montadoras, volume 47,1% inferior ao de novembro e 54,1% menor que o de dezembro de 2007.

Segundo a Anfavea, que não tinha uma série histórica disponível, este desempenho é o pior em pelo menos dez anos.

Porém, os estoques da indústria e das concessionárias, que no fim de novembro somavam 305.354 unidades, o equivalente a 56 dias de vendas, caíram para 211.625 unidades, ou 36 dias de vendas.

- Com as quedas nas vendas do último trimestre, os fabricantes reduziram a produção para equilibrar os estoques, o que é natural - disse Jackson Schneider, presidente da Anfavea, reconhecendo que os estoques ainda estão altos. - A média dos últimos meses até outubro era de 28 a 29 dias.

As reduções de IPI, autorizadas pelo governo ao setor em meados de dezembro, também ajudaram a aliviar os pátios das empresas. As vendas no mês passado alcançaram 194.486 unidades, volume 9,4% superior ao de novembro. Ante dezembro de 2007, porém, houve queda de 19,7%. Mas em razão das incertezas que persistem sobre o comportamento da economia este ano, a Anfavea quebrou uma tradição de início de ano e não fez previsões para o setor:

- As medidas de redução do IPI, apesar de já mostrarem resultados positivos, foram tomadas muito recentemente. Por isso, ainda não temos condições de avaliar qual será o impacto sobre 2009 - disse Schneider. - Além disso, os juros e o câmbio médio ainda não estão definidos, e esses são fatores essenciais para se projetar o desempenho do setor para o ano.

Apesar da queda acentuada de vendas e produção nos últimos três meses do ano, a indústria automobilística nacional teve em 2008 um ano sem precedentes no país. As vendas de veículos atingiram 2,82 milhões de unidades, 14,5% a mais que em 2007 e novo recorde do setor. A produção chegou a 3,21 milhões de veículos, alta de 8% e novo marco da indústria.

Analista: corte da Selic não reduzirá "spread" bancário

A brusca retração do último trimestre atingiu o nível de emprego no setor, invertendo uma tendência de contratações que vinha desde o início do ano. Em dezembro as montadoras dispensaram 3.208 trabalhadores, uma queda de 2,4% do total de empregados ante novembro.

Apesar da crise, o Brasil encerrou 2008 como o quinto maior mercado mundial de veículos, deixando o oitavo lugar que ocupava um ano antes: ultrapassou Reino Unido, França e Itália. À frente do Brasil, agora, estão apenas EUA, China, Japão e Alemanha.

Uma das saídas para impulsionar as vendas é um novo barateamento do crédito. Porém, no setor bancário, a redução dos spreads (diferença entre a remuneração que os bancos pagam na captação e os juros que cobram nos empréstimos) não se dará exclusivamente com a retomada dos cortes da Taxa Selic pelo Banco Central (BC).

Segundo o analista de instituições financeiras da Austin Rating, Luis Miguel Santacreu, o brasileiro só pagará menos juros se houver um entendimento entre Executivo, Legislativo e os bancos.

Ao Legislativo, diz ele, caberia fazer avançar reformas como a tributária e ainda aprovar a criação do cadastro positivo (que reduz o risco de inadimplência). Ao Executivo, baixar a carga de tributos sobre operações financeiras e continuar reduzindo o compulsório e a taxa Selic. Já os bancos, completa ele, deveriam trabalhar com spreads "mais realistas".