Título: Com candidatura de Sarney, petistas podem boicotar Temer na Câmara
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 21/01/2009, O País, p. 4

Lula tentará manter apoio de deputados do PT e da base ao peemedebista.

BRASÍLIA. Com a decisão do senador José Sarney (PMDB-AP) de ser candidato a presidente do Senado, o Palácio do Planalto passou a ter uma preocupação maior com a disputa na Câmara. Todo esforço a partir de agora é no sentido de evitar que a candidatura do deputado Michel Temer (PMDB-SP) seja boicotada por petistas e aliados que rejeitam a ideia de o PMDB comandar as duas casas do Congresso. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou ontem uma ação para blindar a candidatura de Temer e garantir o apoio do PT ao peemedebista.

Os dirigentes petistas reafirmam o apoio a Temer, mas reconhecem que a bancada na Câmara ficou dividida a partir da candidatura de Sarney. Na reunião de coordenação política, ontem de manhã, Lula fez um relato da conversa que teve na noite anterior com Sarney, quando o senador confirmou sua disposição de enfrentar o senador Tião Viana (PT-AC), para atender um apelo partidário. Lula disse ainda que jamais ficaria contra Sarney, mas que agora é tarde para trabalhar a saída de Tião Viana da disputa.

Temer sustenta que não haverá interferência

Ontem mesmo, o PT já dava demonstrações de que atenderia à determinação palaciana. O deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), presidente do partido, afirmou que o PT mantém o compromisso com Temer. Reconheceu que a candidatura de Sarney pode trazer problemas dentro e fora do PT e fez ressalvas ao duplo poder do PMDB:

- Não é bom que um mesmo partido passe a presidir a Câmara e o Senado. Do ponto de vista do PT, não haverá interferência. Tem muita gente procurando alimentar a instabilidade dentro e fora do PT, depois que Sarney lançou a candidatura. O PT vai apoiar Temer.

Já o deputado Michel Temer amenizou a possibilidade de reflexos na sua candidatura. Ele não acredita em muitas dissidências dos partidos aliados em favor de seus concorrentes Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Ciro Nogueira (PP-PI). Lembrou que 12 partidos apoiam a candidatura e que o PT reafirmou o compromisso assumido há dois anos:

- Não haverá interferência, influência ou contaminação da minha candidatura com o lançamento de Sarney. Estou com uma base muito ampla. A dinâmica do Senado é uma, e a da Câmara é outra.

O senador petista Tião Viana discorda:

- O lançamento do nome de Sarney contamina a eleição na Câmara. O PT vai manter o compromisso com Temer. Mas outros partidos podem votar contra ele por causa do equilíbrio de forças no Congresso.

Garibaldi deve retirar hoje sua candidatura

Tião admite que a entrada de Sarney na disputa muda o jogo, porque ele tem "uma força política reconhecida no Brasil e também uma força de poder pessoal". Mas, em clima de campanha, aproveitou para alfinetar o adversário, sugerindo que ele não se cansa de exercer cargos de comando. Além de presidente da República de 1985 a 1990, Sarney comandou o Senado entre 1995 e 1997, durante o governo FH, e de 2003 a 2005, na gestão de Lula.

- Se Sarney acha que deve ser presidente do Congresso pela terceira vez, depois de ter sido presidente da República, tenho que respeitar - diz o petista.

O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), também reafirmou o apoio do PT a Michel Temer, mas disse que o PMDB deve ficar atento:

- A candidatura do Sarney chama a atenção porque, quando Temer foi lançado, ela foi tratada por todos os próceres do PMDB como algo prioritário. Isso (o apoio do PT) não muda. Prefiro o PT comandando o Senado e o PMDB, a Câmara.

Outro entrave à candidatura Sarney foi removido na noite de segunda-feira. Depois da conversa com Lula, o peemedebista conversou com o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-AP), que queria se reeleger, para informar sua decisão. Garibaldi convocou para hoje um almoço com a bancada do PMDB para retirar a candidatura.

COLABORARAM: Chico de Gois e Cristiane Jungblut