Título: Graves acusações
Autor: Mariz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 23/03/2009, Política, p. 07

Uma das formas mais sórdidas de alienação parental vai além das habituais estratégias para bloquear o contato da criança com o genitor, como não dar recados deixados por telefone ou ¿esquecer¿ de avisar sobre a festa no colégio. As falsas acusações de abuso sexual têm sido identificadas cada vez mais nas delegacias de polícia. Psicólogo forense do Instituto de Medicina Legal do Distrito Federal, Álvaro Pereira da Silva Júnior destaca que não há um acompanhamento estatístico. ¿Mas muitos casos começaram a chamar a atenção pela versão apresentada pela criança, a dinâmica familiar e o contexto em que surgia a denúncia¿, explica.

Andréia Calçada, psicoterapeuta e autora do livro Falsas acusações de abuso sexual e a implantação falsas memórias, diz que na literatura científica a proporção é de uma denúncia falsa a cada três formuladas nesse contexto de litígio sobre a guarda da criança. ¿Assistentes sociais, psicólogos, promotores, advogados e juízes precisam estar atentos quanto ao problema. É claro que diante de uma denúncia desse tipo, ficamos enojados e a tendência é crucificar logo o pai ou mãe que teriam cometido a violação. Mas precisamos manter a neutralidade¿, diz Andréia.

Calúnia Graças a três laudos diferentes, que contrariaram um primeiro atestado emitido por uma psicóloga, Ricardo Castro, 47 anos, foi inocentado da acusação de abusar sexualmente da filha, hoje com 10 anos. Desde que a garota tinha 4 anos, ele enfrenta uma maratona judicial para garantir o direito de conviver com ela. ¿São seis anos de manipulação, tempo em que acabei ficando longe da minha filha¿, conta o engenheiro. Ele processou a ex-mulher, a advogada dela e a psicóloga que elaborou o primeiro laudo. Elas respondem por denúncia caluniosa. Apesar do pior ter passado, a relação com a menina ainda é difícil. Ricardo tem encontros monitorados uma vez por semana dentro do fórum para fazer a reaproximação.

¿Tenho que tentar resgatar na memória dela os quatros anos de convivência intensa que tivemos. Uma psicóloga do fórum me ajuda. Mas não é fácil. Saio do encontro como se tivesse jogado três horas de futebol¿, diz Ricardo. Arnoldo Camanho de Assis, presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família do Distrito Federal, lamenta a morosidade judicial. ¿Nesses casos, a tendência natural do juiz, inicialmente, é afastar o possível abusador da criança. Mas os laudos que precisam ser feitos até o desfecho do caso demoram tanto que o laço entre o filho e o pai fica ameaçado, culminando exatamente no objetivo do genitor que aliena¿, afirma. (RM)