Título: Para Planalto, BC demonstrou sensibilidade
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 22/01/2009, Economia, p. 23

Meirelles disse a Lula que pressão inflacionária se dissipou. Auxiliares do presidente esperam novos cortes.

BRASÍLIA. A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir em 1 ponto percentual a Taxa Selic, para 12,75% ao ano, foi discretamente comemorada no Palácio do Planalto. Na avaliação de auxiliares diretos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pela primeira vez, desde que começou a crise financeira internacional, o Banco Central (BC) demonstrou sensibilidade para o que é considerada uma "mudança dramática" da situação macroeconômica.

O núcleo do governo considerava que já era hora de o BC colaborar efetivamente com os esforços do Executivo para atenuar os reflexos da crise no Brasil.

Até a semana passada, havia forte pressão palaciana para uma redução de pelo menos 0,75 ponto, reforçada na última segunda-feira com a divulgação do fechamento de quase 655 mil vagas formais em dezembro. No campo político, há temor na equipe do presidente de que, ao atingir a economia real, a crise comece a influenciar a popularidade do governo Lula.

Em suas últimas conversas com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, Lula fez questionamentos sobre as mudanças no cenário econômico. Meirelles, então, sinalizou, pela primeira vez, que a pressão inflacionária havia caído significativamente e que isso traria reflexos na decisão do Copom.

O Planalto não considera que a decisão do BC denote influência política. Ao contrário, afirmou um ministro, havia um medo de que o BC não utilizasse força total justificando autonomia. A expectativa, agora, é que seja mantido, nossos próximos encontros do Copom, o mesmo ritmo de cortes.

Queda de IPI para poderá ter contrapartida

Enquanto o BC corta os juros, o governo avança na proposta de reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de bens duráveis, como fogões, geladeiras e televisores.

A desoneração deverá ser vinculada a contrapartidas trabalhistas e ambientais e faz parte das soluções, como quer Lula, que estimulem o consumo e o emprego. Este é o argumento para convencer o Ministério da Fazenda, que teme perder arrecadação.

No caso da questão ambiental, a idéia é incentivar a queda do consumo de energia com a compra de equipamentos mais econômicos.

Em outra frente, Lula recebeu ontem Sérgio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC - cargo que ele ocupou nos anos 70 - para discutir os efeitos da crise para os trabalhadores. O sindicalista quer a reativação das câmaras setoriais, que reúnem empresários, trabalhadores e governo para discutir saídas conjuntas para momentos de retração. A entidade promoverá ainda um seminário para debater propostas, ideia que Lula apoiou.

COLABORARAM: Martha Beck e Chico de Gois