Título: Patrus admite erro na porta de saída para beneficiados pelo Bolsa Família
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 23/01/2009, O País, p. 4

Apenas 5% das vagas em cursos profissionalizantes foram preenchidas.

BRASÍLIA. A oferta de cursos profissionalizantes na área da construção civil, principal aposta do governo para criar uma porta de saída no Bolsa Família, esbarra na falta de alunos. Das 185 mil vagas disponíveis no país, só 9.530 (5%) já foram preenchidas. O baixo número de inscritos surpreendeu o governo. As aulas estavam previstas para começar ano passado, mas só deverão ter início em fevereiro ou março.

O ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, admitiu erros. O maior teria sido a tentativa de mobilizar as prefeituras durante a campanha eleitoral.

Programa foi lançado em período inadequado

Patrus considerou equivocada ainda exigência de que as inscrições fossem feitas apenas em agências do Sistema Nacional de Empregos (Sine):

- Só comete erros quem faz. Começamos no momento inadequado. Lançamos o programa em período eleitoral, fim de ano, com prefeitos encerrando mandatos. Os eleitos não haviam assumido, e mesmo os reeleitos estavam em transição.

O Plano de Qualificação Setorial (Planseq) da construção civil foi lançado no primeiro semestre. Em julho, o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) promoveu encontros com gestores. Em outubro e dezembro, enviou cartas aos beneficiários aptos a participar: maiores de 18 anos que concluíram pelo menos a 4ª série do ensino fundamental.

Agora, equipes do MDS e do Ministério do Trabalho visitarão as 13 regiões metropolitanas e 16 capitais onde haverá qualificação profissional. Começarão semana que vem no Rio, Santos e Campinas. Os beneficiários também poderão se inscrever em Centros de Referência da Assistência Social.

A construção civil foi escolhida por ser um setor com carência de mão-de-obra. Os cursos terão duração de 200 horas, sendo 80 delas teóricas e 120 práticas. O governo quer empregar beneficiários do Bolsa Família em obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Patrus não gosta da expressão "portas de saída". Prefere "portas de entrada" para o mercado de trabalho, o que será prioridade este ano. No segundo semestre, o governo pretende lançar o Planseq do turismo.

Ministro não concorda com distinção de classe para cursos

Patrus evitou comentar as declarações do ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, que criticou a oferta das ações de "porta de saída" ao Bolsa Família para os beneficiados de mais baixa renda. Anteontem, em entrevista ao GLOBO, Mangabeira disse que não adianta dar essa formação à população miserável, e que o foco devem ser trabalhadores mais próximos da classe média.

Patrus não defendeu essa distinção por critério de renda para oferta de alternativas de saída do programa. Mas frisou que, entre os 11 milhões de beneficiários do programa, há pessoas marginalizadas que, pelo histórico de exclusão, dificilmente conseguirão se emancipar economicamente.

- Vamos ser claros: alguns não vão mesmo. Estamos trabalhando para seus filhos, netos. Para quebrar a pobreza intergeracional - disse.