Título: Lula cobra ação de bancos estatais
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 23/01/2009, Economia, p. 2

Presidente quer redução dos juros ao consumidor, na esteira do corte da Selic.

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem que os bancos públicos assumam a liderança no processo de redução dos spreads (diferença entre a taxa de captação de recursos no mercado e aquela cobrada dos clientes). Em reunião com os presidentes de Banco do Brasil (BB), Caixa Econômica Federal, BNDES, Banco do Nordeste (BNB) e Banco da Amazônia, Lula também recomendou mais agilidade no processo de concessão de crédito.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, presente ao encontro, afirmou que, na visão do governo, os spreads atingiram um patamar que pode prejudicar o crescimento da economia:

- As taxas de spread chegaram a patamares inimagináveis, extremamente elevados, inadmissíveis para um país que precisa de crédito para crescer.

Objetivo seria pressionar instituições privadas

Na reunião, que contou com o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, e os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Paulo Bernardo (Planejamento), fez-se uma avaliação dos efeitos da crise sobre o Brasil. Segundo Mantega, embora os bancos públicos tenham tido um desempenho satisfatório, é preciso fazer mais:

- Apesar de o setor público e o privado terem aumentado a oferta, ainda falta crédito, porque secaram as fontes externas e o mercado de capitais parou de fornecer crédito para as empresas que ali captavam.

Sem abrir números, o BB garante que já está reduzindo seus spreads. O vice-presidente de Finanças do banco, Aldo Mendes, disse que desde o fim de novembro as taxas dos empréstimos estão recuando.

Lula só esperava a redução da Selic para fazer uma ação mais agressiva pela redução dos juros reais. Segundo um auxiliar direto do presidente, ao cobrar ação dos bancos oficiais, o governo quer criar constrangimento para as instituições privadas. Na reunião, Lula chegou a questionar os presidentes dos bancos sobre a diferença entre a Selic e os juros ao consumidor. Segundo interlocutores, sua cobrança por mais crédito teria sido enérgica.

Mas técnicos admitem que dificilmente os bancos públicos conseguirão forçar a redução generalizada das taxas.

Caixa tem as menores taxas do crédito ao consumidor

Pesquisa do Procon de São Paulo com os maiores bancos do país, feita no último dia 12, mostra que a Caixa tem as menores taxas: 4,44% ao mês no crédito ao consumidor e 7,49% no cheque especial. Após o corte da Selic, a instituição avisou que os juros dessas duas linhas cairão para 4,39% e 7,35% a partir de fevereiro. O BB também promete redução: a taxa do cheque especial cairá de 7,99% para 7,91% ao mês já hoje.

Para analistas, esses cortes terão efeitos ínfimos no bolso do consumidor. O repasse da queda da Selic significará redução de 0,08 ponto percentual, em média, nas taxas mensais de crédito. Segundo simulação da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), quem tomar um empréstimo de mil reais por 12 meses desembolsará R$1.393,92 em um ano - nem R$7 a menos do que antes.

- Há um descolamento muito grande entre a Selic (12,75% ao ano) e as taxas cobradas dos consumidores, de 137,9% ao ano, na média - diz Miguel de Oliveira, da Anefac.

Dados do BC mostram que a Selic subiu 2,5 pontos percentuais em 2008, e o spread médio para pessoas físicas, até novembro, aumentou 11,7 pontos.