Título: Um plano de negócios arriscado
Autor: Bôas, Bruno Villas; Ribeiro, Erica
Fonte: O Globo, 26/01/2009, Economia, p. 14

Para analistas, incertezas na economia podem elevar custo de investimentos da Petrobras.

Bruno Villas Bôas e Erica Ribeiro

Na última sexta-feira, a Petrobras divulgou seu plano de negócios para o período de 2009 a 2013, no qual prevê investimentos de US$174,4 bilhões. Somente este ano serão US$28,6 bilhões. Na avaliação de analistas, o volume de desembolsos previsto, especialmente para 2009, é muito alto e pode não ser concretizado, diante da incerteza quanto ao futuro da economia mundial em meio à crise. Além disso, dizem os especialistas, há risco de comprometimento do fôlego financeiro da companhia. A estatal precisará superar pelo menos cinco obstáculos para concretizar o planejameto sem elevação dos custos, como a queda de preço do petróleo, a desvalorização de suas ações, a escassez de crédito no mercado e a falta de garantia do apoio financeiro do governo após a próxima eleição.

Os US$28,6 bilhões que serão aplicados este ano pela estatal terão a sua maior parte financiada. De acordo com a apresentação do presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, na sexta-feira, a empresa já garantiu US$11,9 bilhões do BNDES, negocia US$5 bilhões com bancos privados e ainda captará cerca de US$1 bilhão no mercado. Os US$10,5 bilhões restantes virão do caixa próprio da companhia.

Embora o mercado já apostasse no aumento dos investimentos da estatal, com a inclusão dos projetos do pré-sal, o plano de negócios ficou muito acima de qualquer estimativa. O consultor Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), afirma que os investimentos previstos para estes cinco anos foram surpreendentes.

- O valor de US$174,4 bilhões parece um exagero. O mercado não apostava em um número muito grande porque o cenário é ruim, com o preço de petróleo em baixa e escassez de crédito no mercado. O plano parece mais político do que técnico. Se a Petrobras tivesse equilibrado os fatores, o plano seria na casa de US$130 bilhões - afirma Pires.

Estatal precisará rever contratos

Os riscos para a Petrobras estão concentrados principalmente nos investimentos deste ano, de US$28,6 bilhões, avalia Pires. Segundo ele, mesmo com os recursos do BNDES, a empresa precisará reduzir suas despesas para manter uma posição sustentável de caixa. O consultor afirma que será necessário reavaliar todos os contratos de bens e serviços:

- A Petrobras precisará rever também sua política de contratação da terceirizados, que somam 200 mil pessoas. Mas qualquer tentativa de redução desses gastos pode provocar uma reação negativa das empresas, causando um desgaste político que o governo vai querer evitar.

Marcelo Ribeiro, estrategista da Pentágono Asset Management, acredita que diante da incerteza quanto ao futuro da economia mundial, não só o plano de negócios da Petrobras quanto o de qualquer outra empresa corre o risco de não se tornar realidade. Ele chama a atenção para o fator China, cujos dados mais recentes mostram violenta desaceleração naquele país:

- A China parece caminhar para uma recessão, o que pode colocar em xeque o regime daquele país. A China é fundamental para os preços do petróleo e mesmo que as estimativas utilizadas no plano de negócios da Petrobras sejam aparentemente conservadoras, podem não se materializar se a China entrar em recessão e turbulência política e social - afirma Ribeiro.

Desde o pico registrado em 11 de julho de 2008, quando fechou cotado a US$147,27 na Bolsa de Nova York, a cotação da commodity já acumulou queda de 68,5%, encerrando o pregão da última sexta-feira negociado a US$46,47. Para eles, mantido o atual patamar de preços, a estatal poderá registrar uma menor geração de caixa e encontrar dificuldades para executar todos os projetos. Isso pode levar a uma necessidade de endividamento ainda maior, considerando que 63% dos investimentos deste ano já serão financiados.

Ações da companhia já caíram 41%

Outra opção da companhia seria o mercado de capitais. Mas desde 11 de julho de 2008 os papéis da estatal tiveram uma desvalorização de 41%, passando de R$40,15 para R$23,64, valor de fechamento da última sexta-feira na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Com o preço em baixa, a Petrobras precisará emitir mais ações para levantar recursos no mercado.

Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe) da UFRJ, também acredita que o plano traz riscos para a Petrobras, mas acredita que ela vai desempenhar um papel importante:

- As empresas precisam continuar investindo cada vez mais. Isso pode implicar riscos para a Petrobras, mas o risco maior é não investir. Se a recessão se prolongar, ela vai perder dinheiro, mas aí todos vão perder dinheiro.

Jean Paul Prates, especialista em política energética, pondera que, mesmo diante da crise, a Petrobras é uma opção preferencial dos investidores pelo seu histórico e conta com o apoio do governo por ser uma empresa estratégica para o país.

-- Quem vai bancar a Petrobras são investidores que confiam na empresa, em seu corpo técnico e sua trajetória de sucesso, além do apoio governamental que ela continuará recebendo. A Petrobras é a principal empresa do país e atua em segmentos estratégicos para o Brasil.

Pedro Camarota, diretor de Negócios da consultoria Gás Energy, o aumento dos investimentos acredita poderá ser positivo ou negativo de acordo com os projetos previstos, o que será detalhado hoje pelo presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, e diretores da companhia na sede da estatal, no Rio.