Título: De olho nos cargos da Mesa, partidos trocam Tião por Sarney no Senado
Autor: Vasconcelos, Adriana; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 28/01/2009, O País, p. 4

PTB e PR reivindicam secretarias e apostam na saída do petista da disputa.

BRASÍLIA. Diante do favoritismo do candidato José Sarney (PMDB-AP) na eleição para presidente do Senado, partidos da base governista que já haviam aderido à campanha de Tião Viana (PT-AC) começaram a rediscutir ontem suas posições temendo ficar de fora da negociação pelos principais cargos da Mesa. A primeira dissidência deverá ser do PR, que tem quatro senadores e teme ficar sem espaço. A expectativa do partido é que prospere a articulação de um grupo de peemedebistas e outros aliados do governo para convencer o petista a sair da disputa. O PTB também se apressou ontem em oficializar apoio a Sarney.

O PR quer negociar com Sarney uma vaga para Magno Malta (PR-ES). Já o PTB, em troca de seus sete votos, reivindica a 2ª secretaria para Epitácio Cafeteira (MA), uma suplência para João Claudino (PI) e ainda a presidência da Comissão de Relações Exteriores (CRE) para o ex-presidente Fernando Collor (AL). Esse último cargo, porém, também é pleiteado pelo tucano Eduardo Azeredo (MG) e por Marco Maciel (DEM-PE).

Apesar da pressão, Viana reiterou que vai até o fim:

- Eu não retiro a minha candidatura por ninguém.

PSDB deve esperar até o último momento

A bancada do PSDB deverá se reunir hoje, mas não anunciará apoio a Sarney. Interessados no racha entre PMDB e PT, a estratégia é manter o suspense até o fim de semana, para evitar a renúncia de Viana e forçar o PMDB a atender suas reivindicações: a 1ª vice-presidência da Mesa para Marconi Perillo (GO) e a 4ª secretaria para Álvaro Dias (PR), além do comando da CRE e da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) para Tasso Jereissati (CE).

- Queremos saber o que os dois candidatos pensam sobre o terceiro mandato de Lula, a avalanche de medidas provisórias, a divisão sobre as relatorias dos principais projetos e até mesmo sobre a reforma política - disse ontem o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE).

Fechado com a candidatura de Sarney, o DEM já garantiu a 1ª secretaria do Senado - cargo cobiçado, por cuidar de um orçamento de R$2 bilhões - que deverá ser destinada a Heráclito Fortes (DEM-PI). Já a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para Demóstenes Torres (DEM-GO) ainda não está assegurada. O PMDB está de olho na vaga para o atual presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN).

Nos bastidores, o PT ameaça atrapalhar os planos do PMDB caso Viana perca: pediria os postos já prometidos.

- Estão prometendo terreno na Lua. Essa negociação de cargos é lamentável - criticou Viana.

- O clima aqui está tão pesado que não se consegue nem vender a alma ao Diabo, porque já tem gente oferecendo de graça - ironizou Wellington Salgado (PMDB-MG).

Temer vai registrar chapa hoje com 14 partidos

Na Câmara, Michel Temer (PMDB-SP) registrará hoje uma chapa completa para os sete cargos da Mesa, com deputados indicados pelos 14 partidos que integram o recém-criado Blocão. Ainda assim, a previsão é de acirrada disputa pelas vagas de titulares e suplentes, com o lançamento de candidaturas avulsas. Ontem, após muita discussão numa reunião em sua casa com os 14 líderes e outros caciques partidários, Temer praticamente fechou a chapa.

O candidatos Ciro Nogueira (PR-PI), Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Osmar Serraglio (PMDB-PR) apenas registrarão suas candidaturas. Se um deles ganhar, dividirá os cargos da mesa com os escolhidos pela proporcionalidade das bancadas.

- Temer está tendo que oferecer três vagas para cada cargo, para acomodar todo mundo. Vai ser uma guerra, com candidatos avulsos do PT disputando com PMDB ou PSDB. Nós não estamos fazendo isso - disse Ciro.

Para mostrar unidade e minimizar a possibilidade de traição, assinaram ontem o apoio a Temer líderes de PMDB, PT, DEM, PSDB, PR, PTB, PDT, PPS, PV, PSC, PHS, PTC, PRB e PTdoB.

Depois da presidência, o segundo cargo mais cobiçado, a 1ª secretaria - a "prefeitura" da Casa - ficará com o PSDB, e o indicado dos tucanos é Raphael Guerra (MG). O cargo caberia ao PT, que tem a segunda escolha pela regra da proporcionalidade (tamanho da bancada), depois do PMDB, que tem a maior bancada e ficará com a presidência. Mas a direção do partido abriu mão para ficar com a 1ª vice-presidência e a 3ª secretaria.