Título: Battisti: Itália convoca embaixador no Brasil
Autor: Araújo, Vera Gonçalves; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 28/01/2009, O País, p. 5

Protesto é reação a parecer do procurador-geral da República pelo arquivamento do processo de extradição do ex-ativista.

ROMA e BRASÍLIA. Em novo protesto contra a concessão de refúgio político ao ex-ativista de esquerda Cesare Battisti, o governo italiano convocou na noite de segunda-feira o embaixador do país no Brasil, Michele Valensise, para dar esclarecimentos sobre o caso. A medida acirrou ainda mais a tensão política entre Itália e Brasil. Nos meios diplomáticos, a medida é considerada um protesto grave. O Brasil chamou seu embaixador no Equador numa queixa contra o não-pagamento, pelo governo equatoriano, de um financiamento do BNDES.

Ontem, em telefonema ao colega brasileiro Celso Amorim, o ministro italiano das Relações Exteriores, Franco Frattini, exigiu novamente a extradição de Battisti, condenado à revelia na Itália por quatro assassinatos.

A decisão da Itália foi uma reação ao parecer do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, que, respondendo a questionamento do Supremo Tribunal Federal (STF), recomendou o arquivamento do processo de extradição de Battisti. O governo italiano ameaçava chamar Valensise, mas preferiu mantê-lo em Brasília até que houvesse decisão. Até ontem, o STF não havia se pronunciado.

Frattini considerou que o parecer não avaliou as argumentações de seu governo e que a recomendação serviu para "cobrir a decisão política" do ministro da Justiça, Tarso Genro, de concessão do refúgio. Ele disse que Battisti "é um terrorista que não merece status de refugiado":

- Isto (o parecer do procurador) é inaceitável, e, portanto, convocamos o embaixador para consultas. Quero entender quais os caminhos a seguir.

Em Brasília, em nota de três frases, o Ministério das Relações Exteriores manifestou o descontentamento do governo com a convocação do embaixador. O Itamaraty contestou a reclamação de que o ex-ativista teria sido beneficiado por "parecer expresso" da Procuradoria Geral e reiterou que o processo de extradição tem cumprido à risca as leis brasileiras.

"O Brasil tomou conhecimento da decisão do governo italiano de chamar para consultas o embaixador da Itália no Brasil, em razão do "parecer expresso sobre o caso Battisti pelo procurador-geral da República". O governo brasileiro considera que todos os procedimentos sobre a questão estão sendo seguidos de acordo com a legislação brasileira", diz a nota.

Apesar da pressão italiana, o Planalto não deve rever seu posicionamento. Mas a nota tenta atenuar os efeitos da crise diplomática. "O governo brasileiro reitera a confiança (...) de que os laços históricos e culturais que unem Brasil e Itália continuarão a inspirar nossos esforços com vistas a aprofundar ainda mais as sólidas relações bilaterais".

Amistoso entre os dois países é confirmado

O subsecretário da presidência do Conselho de Ministros da Itália, Rocco Crimi, confirmou o amistoso entre Brasil e Itália, em 10 de fevereiro. A partida esteve ameaçada por causa da tensão entre os dois países. "Casos políticos ou diplomáticos, apesar de relevantes, não devem comprometer manifestações esportivas", disse Crimi. O cancelamento fora sugerido pelo subsecretário das Relações Exteriores da Itália, Alfredo Mantica.

* Especial para O GLOBO, com agências internacionais