Título: PIB mundial encolhe até 1%
Autor: Allan, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 20/03/2009, Economia, p. 18

Fundo Monetário Internacional projeta para 2009 a mais forte retração da economia global desde a Segunda Grande Guerra. Japão, Europa e Estados Unidos devem apresentar os piores desempenhos

Neste ano, a economia mundial sofrerá a maior contração desde a Segunda Guerra mundial (1939-1945), encolhendo entre 0,5% e 1%. A previsão, que mostra a profundidade dos efeitos da crise global, é do Fundo Monetário Internacional (FMI). Até ontem, o Fundo ainda mantinha a estimativa de expansão de 0,5%, considerada excessivamente otimista até pelo próprio diretor-gerente da instituição, o francês Dominique Strauss-Kahn. Em comunicado, o organismo multilateral projetou uma recuperação moderada em 2010, mas também numa magnitude inferior à imaginada anteriormente. A previsão passou de 3% positivos para um intervalo entre 1,5% e 2,5%.

A soma das riquezas dos países avançados diminuirá entre 1,5% e 2,5%, com o maior recuo a ser registrado no Japão (-5,8%), seguido pelos 16 países da Zona do Euro (-3,2%) e os Estados Unidos (-2,6%). Para 2010, as perspectivas das nações ricas continuam muito ruins: -0,2%, 0,1% e 0,2% respectivamente. Nos cálculos dos técnicos do Fundo, as economias emergentes também crescerão menos do que o previsto antes, mas continuarão tendo um desempenho melhor do que as industrializadas. Para o grupo em desenvolvimento, a estimativa caiu de 3,3% para algo entre 1,5% e 2,5% em 2009. No ano que vem, diminuiu de 5% para 3,5% a 4,5%.

O FMI continua preocupado com os problemas insolúveis no sistema financeiro mundial, que não só dificultam as chances de recuperação, como também aprofundam e prolongam a recessão. ¿Restaurar a confiança é crucial para resolver a crise, o que torna importante lidar com os problemas no setor financeiro. As autoridades econômicas devem urgentemente resolver as incertezas nos balanços dos bancos tratando agressivamente dos ativos podres e recapitalizando instituições viáveis¿, assinalou a nota.

O Fundo apelou para uma maior cooperação entre os países para estabilizar os mercados e sustentar as medidas de estímulo à demanda, entre elas os incentivos fiscais. Segundo a avaliação dos economistas da organização, apesar dos enormes pacotes adotados nos principais países desenvolvidos e emergentes, o volume do comércio internacional caiu demasiadamente e os dados recentes da produção e do emprego sugerem que a atividade global continua em retração no primeiro trimestre.

Reação O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, manifestou ontem sua esperança de que a economia americana comece a se restabelecer em um ou dois anos. Durante comício em Los Angeles (Califórnia), ele justificou as gigantescas verbas liberadas por seu governo e os déficits de US$ 1,752 trilhão e de US$ 1,171 trilhão previstos para 2009 e 2010 em seu primeiro orçamento. Ele prometeu, porém, reduzir estes déficits. ¿Assim que a economia começar a se restabeceler, e espero que isso aconteça daqui a um ou dois anos, abriremos o caminho para a redução dos déficits¿, declarou.

-------------------------------------------------------------------------------- EUA taxam bônus em 90%

A Câmara de Deputados dos Estados Unidos aprovou ontem um projeto de lei feito sob medida para o governo retomar os bônus pagos aos executivos da seguradora AIG com dinheiro público, o que escandalizou a sociedade do país e o próprio presidente Barack Obama. Os prêmios concedidos a companhias que receberem mais de US$ 5 bilhões de ajuda do Tesouro pagarão 90% de imposto. A proposta, que ainda terá de ser analisada no Senado, contou com o apoio da oposição republicana e passou com o placar de 328 votos a 93.

A AIG já recebeu US$ 170 bilhões em auxílio do Tesouro, o que não a impediu de ter um prejuízo de US$ 99,3 bilhões em 2008, a maior da história corporativa norte-americana. ¿A ira gerada pela arrogância, pretensão e cobiça dessas pessoas justifica essa medida¿, disse a presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi. Nesta semana, a AIG pagou US$ 165 milhões aos seus executivos, mas o pacote total de benefícios já passou de US$ 450 milhões.

Ontem, o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, assumiu a responsabilidade pelo pagamento. Geithner vem sendo muito criticado nos meios políticos por ter pleno conhecimento dos movimentos da empresa, desde que o Tesouro assumiu 80% do seu capital. Os bônus foram pagos sob o argumento de que faziam parte de contratos de trabalho firmados antes da crise. (RA)