Título: OIT: América Latina demitirá até 2,4 milhões
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 28/01/2009, Economia, p. 25

Relatório da organização prevê que desemprego na região pode subir de 7,4%, em 2008, para até 8,3% este ano.

BRASÍLIA. A crise internacional encerrou um ciclo de cinco anos de queda consecutiva na taxa de desemprego na América Latina e no Caribe e poderá levar à extinção de 1,5 milhão a 2,4 milhões de empregos na região em 2009, aponta o relatório anual sobre mercado de trabalho divulgado ontem pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). As estimativas apontam que o percentual de desocupados subirá de 7,4% em 2008 para 7,9% ou 8,3% neste ano, mesmo partindo do pressuposto de que a economia regional vai crescer 1,9%. Embora o documento não tenha dados desagregados por países, a diretora do escritório da OIT no Brasil, Laís Abramo, fez um alerta sobre os riscos de agravamento das condições precárias de trabalho e de crimes, como o serviço forçado e infantil.

- Esse é um risco alto. O mercado de trabalho no Brasil já tem um nível elevado de precarização - disse Laís, que considerou preocupante o corte de verba no Orçamento, feito pelo Congresso Nacional, para ações de combate ao trabalho infantil.

Diretora da OIT diz que luz vermelha acendeu no Brasil

Apesar de o país ter fechado 2008 com saldo positivo de 1,4 milhão de empregos formais, ela considerou preocupantes os dados de dezembro, quando foram eliminados 654,9 mil postos de trabalho, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho.

- Aqui, realmente, acendeu a luz vermelha, um sinal de alerta importante do que pode acontecer no mercado de trabalho - afirmou a diretora.

Segundo Laís, a extensão dos efeitos da crise no mercado de trabalho brasileiro vai depender da manutenção dos investimentos previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), principalmente em setores intensivos em mão-de-obra, e das políticas sociais, além da elevação do salário mínimo. Já há um compromisso do governo nessa direção, afirmou ela.

A representante da OIT disse também que o organismo não tem uma opinião definida sobre a redução de jornada e corte de salários - alternativa que vem sendo utilizada nos acordos entre sindicatos e empregadores para enfrentar a crise -, mas salientou que preservar a renda das famílias é fundamental para manter aquecido o mercado interno. Na avaliação da OIT, esse é o trunfo que coloca o Brasil em situação mais favorável em relação aos demais países.

Embora a taxa média de desemprego tenha recuado de 8,3% em 2007 para 7,5% no ano passado nos 15 países da América Latina e no Caribe, o relatório adverte que o problema continua atingindo mais mulheres e jovens: a taxa de desocupação das mulheres é quase o dobro da dos homens; a dos jovens, quase três vezes mais que a dos adultos. Isso ocorreu apesar de uma expansão do PIB regional de 4,6% em 2008 frente a 2007, reforçando a percepção da OIT de que o crescimento econômico não é garantia de igualdade no mercado de trabalho.

O relatório mostrou ainda que, apesar do aumento de 55% para 61% no índice de cobertura previdenciária, 39% da população urbana não têm acesso à aposentadoria e benefícios. O documento foi apresentado ontem ao ministro do Trabalho, Carlos Lupi.