Título: Obama consegue vitória na Câmara
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 29/01/2009, Economia, p. 19

Por 244 votos a 188, pacote de socorro é aprovado após concessões do governo à oposição.

Como previsto, a Câmara de Deputados dos Estados Unidos, onde o Partido Democrata tem folgada maioria, aprovou ontem à noite o pacote de estímulo econômico do presidente Barack Obama, com 244 votos a favor e 188 contra.Trata-se, porém, de uma vitória parcial, cujo resultado final permanece incerto, pois as resistências no Senado são mais intensas e numerosas. Lá há inclusive alguns democratas descontentes com o texto aprovado ontem. Na Câmara houve uma troca de lados equilibrada: 11 democratas votaram contra, mas dez republicanos ficaram a favor.

Houve algumas pequenas alterações. Foram concessões do governo à oposição. O resultado prático é que o pacote, previsto para ser de US$825 bilhões, ficou em US$819 bilhões. O documento aprovado ontem é, na verdade, o primeiro rascunho do projeto. Espera-se mais modificações no Senado, que deve discuti-lo por pelo menos mais dez dias.

Obama disse que permanecia otimista, em especial porque, além de investimentos e cortes de impostos, o pacote contém medidas de vigilância:

- Sei que alguns estão céticos sobre o tamanho e a escala desse plano de recuperação econômica. Entendo esse ceticismo. E é por causa disso que esse plano vai incluir medidas sem precedentes, que permitirão aos americanos fiscalizar o governo na aplicação das medidas contidas no pacote - afirmou. - O sol é o melhor desinfetante, e sei que restaurar a transparência é não apenas a maneira mais segura de obter resultados, mas também de recuperar a confiança no governo. Sem ela não podemos fazer as mudanças que o povo quer que façamos.

Depois de ter tentado, pessoalmente, convencer parlamentares republicanos a apoiarem o pacote, Obama convocou ontem à Casa Branca 13 diretores-executivos de grandes corporações americanas, como IBM, Kodak, Motorola, Xerox e Google, para reforçar a pressão. Ele disse que queria contar com a contribuição das empresas, tanto em ideias como em ações que privilegiassem a manutenção e criação de empregos:

- Essas são as pessoas que fazem as coisas, que contratam gente.

Logo em seguida, Obama sinalizou aos parlamentares que eles precisavam aprovar o pacote, alegando que isso serviria, inclusive, para auxiliar as empresas a manterem os empregos.

- Todos estão olhando para Washington à espera de ação, de ação arrojada e rápida - afirmou, para, depois, rebater a afirmação dos republicanos de que o pacote seria, na prática, uma forma de esbanjar dinheiro público. - A maior parte do dinheiro que estamos investindo vai chegar às ruas rapidamente e irá para a criação de empregos. E a vasta maioria será criada no setor privado, pois é o setor privado, e não o governo, o motor do crescimento do país.

Para analistas, plano não evita recessão

Para economistas brasileiros, o pacote não vai tirar os EUA da recessão, mas ajudará a minimizar os efeitos da crise. Só que os reflexos sobre o Brasil não serão imediatos. O economista-chefe da GAP, Alexandre Maia, ressalta que a capacidade de alívio dependerá do cronograma de desembolsos, já que a maior parcela dos recursos só deve ser liberada a partir de 2010:

- Esse pacote impede um aprofundamento do quadro, mas não vai tirar os Estados Unidos da recessão - disse Maia, para quem a maior contribuição do pacote é criar um ambiente de recuperação econômica.

O economista da UFRJ Reinaldo Gonçalves é mais cético. Para ele, o pacote nada mais é que a combinação de duas medidas básicas:

- O governo aliou aumento de gastos com redução de impostos, que é uma receita clássica e convencional para enfrentar crises.

O economista da PUC-SP Antonio Lacerda, por sua vez, acha que o pacote será fundamental, porque os EUA respondem por 25% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.

- O pacote não vai evitar a recessão, mas pode amenizar a extensão da crise - disse Lacerda.

A expectativa de aprovação do pacote fez Wall Street e a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fecharem em alta. Em Nova York, o Dow Jones subiu 2,46% e o Nasdaq, 3,55%. Em São Paulo, a Bolsa avançou 3,95%, de volta aos 40 mil pontos. O dólar caiu 2,36%, para R$2,275. O Banco Central (BC) vendeu a moeda no mercado à vista. Nem o comunicado do Federal Reserve (o BC americano) - que manteve os juros básicos entre zero e 0,25% ao ano - de que a economia desacelerou desanimou os investidores.

Boa parte do otimismo deveu-se à expectativa da criação de uma instituição para concentrar os ativos podres de bancos, que está sendo chamada de bad bank (banco ruim). Perguntado sobre essa possibilidade, o novo secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, disse que o governo está considerando várias opções.

A General Motors recebeu a segunda parcela do empréstimo do governo americano, concedido em outubro, no total de US$9,4 bilhões, informou ontem o Tesouro. Em dezembro, ela recebera US$4 bilhões.

(*) Correspondente, com Liana Melo, Felipe Frisch e agências internacionais