Título: Planalto tenta salvar Temer
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 30/01/2009, O País, p. 3

Com aval de Lula, Múcio comanda operação para neutralizar traições e evitar 2º turno

Com a ajuda do Palácio do Planalto, foi montada ontem uma operação de guerra para livrar a candidatura de Michel Temer (PMDB-SP) das ameaças de traição na reta final da campanha pelo comando da Câmara. O QG da campanha foi transferido para a casa do deputado, e para lá foi deslocado ontem até mesmo o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro. Ele se reuniu com líderes partidários para traçar a estratégia de garantir, até segunda-feira, os votos suficientes para eleger Temer no primeiro turno - 257 de um total de 513. O envolvimento do Planalto teve o aval direto do presidente Lula, que já manifestou preocupação com a possível desidratação da candidatura de Temer.

A ordem do comando da campanha foi a de convocar os líderes dos 14 partidos que apoiam oficialmente Temer para que assumam a responsabilidade de confirmar os votos prometidos. Governadores também foram acionados, inclusive os tucanos José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), para garantir os votos de suas bancadas, as duas maiores da Câmara.

Numa outra frente, tentou-se negociar a retirada da candidatura independente de Osmar Serraglio (PMDB-PR). Apesar da pouca chance de vitória do peemedebista, a avaliação é que a saída dele da disputa daria uma demonstração pública de unidade do partido e mais votos a Temer. Serraglio teria hoje 20 votos, enquanto Temer conta com cerca de 300 votos.

Ao GLOBO, Serraglio confirmou que foi procurado por emissários do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, e do próprio Temer.

- Fui procurado por emissários com essa conversa para eu retirar a minha candidatura. Mas não vou sair da disputa. Isso mostra que as coisas estão mudando drasticamente. Aliás, por que tanta abordagem nessa reta final, se não tenho nenhum voto? - alfinetou Serraglio.

Petistas são chamados a QG

Na cobrança dos votos, os líderes dos 14 partidos que integram o "Blocão" foram orientados a alertar suas bancadas para o risco de se pôr em xeque, novamente, a imagem da Câmara, como ocorreu em 2005, com a eleição do ex-deputado Severino Cavalcanti (PP-PE).

- A traição tem que ter uma razão. A traição não é regra. Para ter uma defecção tão grande, haveria uma desorganização do sistema institucional. Isso tornaria inviável a própria Câmara. Hoje, existe um nível de consciência muito maior. Existe um ambiente orgânico mais consistente do que em 2005. A articulação ocorre pelos partidos - adverte o vice-presidente da Caixa e ex-deputado Moreira Franco, um dos coordenadores da campanha de Temer.

Peemedebistas que foram fortes aliados do governo de Fernando Henrique Cardoso receberam a tarefa de falar com os governadores tucanos. O líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), telefonou para Aécio Neves, que estava no exterior. E Eliseu Padilha (RS), ministro dos Transportes no governo tucano, falou com José Serra.

A bancada do PT também passou a ser monitorada de perto. Ontem, foram chamados ao QG de Temer os deputados João Paulo Cunha (PT-SP), ex-presidente da Câmara, e Marco Maia (PT-RS), que concorre ao cargo de 1º vice-presidente. Os dois se comprometeram em garantir um índice baixo de traição entre os petistas.

- Falamos com todos os líderes. Há um compromisso para que cada um fale com todos os deputados de suas bancadas até segunda-feira. É preciso deixar claro para os deputados que esse é um compromisso com os partidos. Essa é uma questão ética. Não queremos essa imagem de que na Câmara todo mundo se vende. Queremos esquecer esse passado - disse Eduardo Alves.

oglobo.com.br/pais