Título: Itália está fechada nos anos de chumbo
Autor: Brígido, Carolina; Araújo, Vera de
Fonte: O Globo, 30/01/2009, O País, p. 4

Tarso Genro afirma que Brasil buscou política de pacificação.

BELÉM. O ministro da Justiça, Tarso Genro, comparou ontem o caso Battisti com o do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), já que ambos foram guerrilheiros e participaram de sequestros durante o período de ditaduras em seus países. Ele afirmou que a Itália ainda vive fechada sobre os "anos de chumbo", enquanto o Brasil passa por um processo de "pacificação política".

- No Brasil estamos em um patamar de pacificação política, enquanto na Itália a ferida ainda não foi cicatrizada. Respeitamos as razões da Itália, mas aplicamos nossa soberania - afirmou.

O ministro disse considerar Battisti um militante da luta armada, "como centenas que temos no Brasil".

- Por exemplo: Fernando Gabeira participou inclusive de sequestro de embaixador (dos Estados Unidos, Charles Elbrick). E hoje Gabeira é um respeitado deputado federal - disse ontem, logo após desembarcar em Belém, para participar do Fórum Social Mundial.

O ministro afirmou não ter ido ao Fórum para buscar apoios para a decisão sobre Battisti, mas contou que tem recebido "muitas" manifestações favoráveis, algumas por cartas, inclusive enviadas da própria Itália.

Tarso frisou que já terminou seu papel no caso e que a decisão agora dependerá apenas do Supremo Tribunal Federal. Ele reafirmou que tem "extremo respeito" pelas manifestações do governo da Itália:

- É muito respeitável a posição da Itália, mas, para entender essa reação, temos que nos lembrar que aquele país ainda está fechado nos anos de chumbo. A diferença é que aqui estamos mais avançados nesse assunto, tanto que discutimos hoje nossa Lei da Anistia - afirmou o ministro, que a partir de hoje, participará de eventos no FSM.

A discussão sobre a Lei da Anistia defendida por Tarso provoca polêmica. Em maio do ano passado, o ministro disse ser favorável à revisão da lei para garantir o julgamento de militares acusados de crimes de tortura, considerado por ele imprescritíveis, e de homicídio durante a ditadura. Essa posição desagradou às Forças Armadas, a setores da Justiça e ao próprio governo federal. O presidente Lula determinou que ele não levasse a discussão adiante.

* Enviadas especiais