Título: Oposição critica gasto maior com Bolsa Família
Autor: Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 30/01/2009, O País, p. 9

Para ministro, ações refletem conjuntura econômica atual.

BRASÍLIA. Apesar de reconhecer a importância do Bolsa Família, a oposição criticou ontem a decisão do governo de ampliar o programa ao invés de centrar esforços e recursos em medidas com impacto mais imediato contra a crise, como o combate ao desemprego. O governo justificou a elevação do teto da renda máxima por família atendida - de R$120 para R$137 - como uma correção inflacionária. Mas ontem o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) sustentou que o maior alcance do Bolsa Família é uma das medidas do pacote anticrise.

Economistas admitem que o Bolsa Família é um instrumento que pode garantir a liquidez e consumo nas camadas mais baixas, mas duvidam de que o impacto seja capaz de contornar um impacto recessivo. Além disso, suscitam dúvidas de que o benefício não passe de uma espécie de subsídio de consumo de curto prazo, devido à falta de porta de saída do programa:

- O investimento na questão social é meritório. Mas como um dia se corta R$37 bilhões e no dia seguinte se anuncia uma ação social? Estamos à beira de um processo recessivo, causa perplexidade e se impõe uma resposta à sociedade: o dinheiro vem de onde? Me preocupa a condução das finanças do país - disse o líder dos Democratas no Senado, José Agripino (RN).

Para especialista, programa não atenua efeito da crise

Segundo Sergei Soares, do Instituto de Pesquisa Econômica (Ipea), o Bolsa Família é um estímulo ao consumo, já que famílias de baixa-renda têm potencial de consumo reprimido. Porém, não teria efeito em toda a economia:

- Como é renda garantida por dois anos, e há consumo reprimido imenso, o dinheiro não vai para a poupança. Mas o Bolsa Família é pequeno em termos orcamentários. É eficaz, mas não atenua efeitos da crise.

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, minimizou o impacto da ampliação do Bolsa Família:

- O governo está fazendo um trabalho de revisar a receita, a despesa, e nós vamos adotar novas medidas em função da conjuntura econômica. Essa foi uma delas. Além disso, estamos preparando novas ações na área habitacional. Portanto, um reajuste do Bolsa Família está mais ou menos dentro do planejado.

Já o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), disse que o programa é necessário e defensável, mas que o governo deveria centrar em geração e manutenção do emprego.