Título: BC indica que fará novos cortes de juros
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Fonte: O Globo, 30/01/2009, Economia, p. 20

Meirelles diz que uso de reservas para ajudar empresas sairá em breve.

BRASÍLIA e DAVOS. O Banco Central deixou claro ontem que está preparado para fazer novos cortes de juros. Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que baixou os juros em um ponto percentual, o BC deu sinal de que a forte desaceleração da economia brasileira, provocada pela restrição de crédito, terá importante efeito sobre a queda de inflação nos próximos meses. Com inflação mais baixa, será possível cortar mais as taxas de juros.

Para analistas, a ata aponta para uma continuidade de reduções mais agressivas da Taxa Selic. Para a reunião de março, as apostas vão de 0,75 ponto a um ponto percentual.

- O Banco Central (BC) manteve suas portas abertas e não fechou questão sobre o tamanho dos cortes. Só dá para saber que o ritmo continuará forte - resumiu o economista-chefe do WestLB, Roberto Padovani.

No documento, o Copom deu vários sinais de que as expectativas de inflação estão convergindo para o centro da meta - de 4,5% pelo IPCA - tanto em 2009 quanto em 2010, ano que ainda não havia sido citado. A ata diz que "para 2010, a projeção de inflação, segundo o cenário de referência, recuou em relação ao valor considerado no "Relatório de Inflação" de dezembro (4,2%) e se encontra sensivelmente abaixo do valor central de 4,50%, e no cenário de mercado (que foi de 4,3%), sofreu ligeira elevação e se encontra em torno do valor central".

Sobre a demanda, o BC entende que ela arrefeceu substancialmente e, por isso, vê menos pressão sobre os preços. Por enquanto, o BC fala num crescimento de 3,2% para o país em 2008.

Como faz em todas as atas, o Copom voltou a dizer que as medidas de alívio fiscal tomadas pelo governo para combater a crise devem surtir efeito para estimular a economia.

A reunião da semana passada mostrou um Copom dividido: cinco diretores optaram pelo corte de 1 ponto e três, pelo de 0,75 ponto. O grupo perdedor, do qual deve fazer parte o diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita, entende que os efeitos do câmbio ainda poderiam ser importantes para puxar a inflação para cima.

O Copom manteve todas as suas projeções de reajustes de algumas tarifas em 2009. Para gasolina, por exemplo, acredita que os preços não serão mexidos agora, mas voltou a afirmar que não se pode descartar reduções por causa da queda acentuada dos preços internacionais do petróleo.

Em Davos, no Fórum Econômico Mundial, o presidente do BC, Henrique Meirelles, disse que, nos próximos dias, o governo deve começar o processo para empréstimo de recursos das reservas internacionais para bancos que financiam empresas brasileiras que têm dívida externa. Num primeiro momento, as linhas de crédito serão concedidas aos bancos autorizados a operar em câmbio no Brasil.

Sobre os juros, Meirelles limitou-se a dizer que eles caíram no momento adequado:

- O Banco Central toma a medida adequada no momento adequado, e hoje (ontem) saiu a ata - respondeu.

(*) Enviada especial