Título: Além de US$100 do Japão, o FMI estuda vender bônus para fazer caixa
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Fonte: O Globo, 30/01/2009, Economia, p. 20

Vice do Fundo diz que objetivo é dobrar capacidade de crédito para US$500 bi

DAVOS, Suíça. O Fundo Monetário Internacional (FMI) está negociando um empréstimo de US$100 bilhões do Japão e estuda fazer seu primeiro lançamento de bônus para aumentar seus recursos, a fim de fazer face à crise global, informou ontem o "Wall Street Journal". Presente ao Fórum Econômico Mundial, em Davos, o vice-diretor-gerente do organismo, John Lipsky, disse que o FMI não está sem caixa, mas deu-se conta de que seria necessário dobrar seus recursos disponíveis para empréstimo, hoje em US$250 bilhões, para US$500 bilhões.

- A maneira mais simples e prática é buscar levantar recursos em uma base condicional (do Japão) ou obter um acordo para emitir bônus - disse Lipsky, que se reuniu em Davos com vários países que contribuem para o FMI.

Nos últimos meses, o Fundo concedeu cerca de US$50 bilhões em financiamentos para Paquistão, Islândia e países do Leste da Europa. Ao ser perguntado se outros países da Europa Ocidental, além da Islândia, poderiam pedir socorro ao organismo - Reino Unido e Espanha, por exemplo, estão em recessão -, Lipsky disse que, na situação atual, "a abordagem correta é "nunca diga nunca"".

O Conselho Diretor do FMI vai se reunir mês que vem para discutir novas vias de financiamento.

O Japão ofereceu um empréstimo de US$100 bilhões ao FMI em novembro, mas os dois lados ainda não chegaram a um acordo. Lipsky disse ao "Journal" que o Fundo está finalizando as negociações.

Ele disse que o empréstimo do Japão seria estruturado de maneira similar aos programas do próprio FMI. Com isso, o Japão estaria adotando postura diversa da época da crise asiática, em 1997. Na ocasião, o país cogitou criar um "Fundo Monetário Asiático", que concorreria com o FMI. Devido à oposição dos EUA, o Japão abandonou a ideia. Desta vez, o país poderia ajudar outras nações em crise - muitas, importadoras de produtos japoneses - sem criar tensões internacionais.

Lipsky disse ainda que o FMI estuda a emissão de bônus para ajudar a obter ao menos parte dos US$150 bilhões de que necessita, além dos recursos negociados com o Japão. O Fundo analisa a hipótese de vender parte - talvez a maioria - desses papéis para bancos centrais e outras agências de governo, em vez de ao público em geral, afirmou o "Journal", citando fontes próximas às discussões. EUA e União Europeia (UE) já impediram outras tentativas do FMI de vender bônus, afirmando que isso o tornaria muito independente, afirmou o ex-economista-chefe do Fundo Michael Mussa.