Título: Tarso ataca imprensa
Autor: Araújo, Vera Gonçalvez de; Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 31/01/2009, O País, p. 3

Ao reclamar da cobertura, ministro diz que mídia defende neoliberalismo.

BELÉM e BRASÍLIA. A primeira participação do ministro da Justiça, Tarso Genro, no Fórum Social Mundial foi também um desagravo em torno do ex-militante italiano Cesare Battisti. Na Universidade Federal do Pará, o ministro não quis falar sobre o caso, mas criticou a imprensa.

- Falei tudo o que tinha que falar sobre o caso Battisti. Está fora da minha jurisdição - disse o ministro que criticou a "grande mídia":

- Veja como a mídia trata as questões da anistia. Não tinha 0,1% da generosidade em relação a como sempre trataram o neoliberalismo. A grande mídia legitima o modelo neoliberal, legitima seus valores. Não importa a forma como eles tratam a caravana. A anistia é um ato de soberania.

E seguiu:

- O pessoal chama de Bolsa Ditadura. Mas essa é uma forma inadequada de ver a questão, porque parece que o governo está indistintamente distribuindo recursos para pessoas que pedem. É sobretudo processo indenizatório determinado por lei, não uma benesse.

O benefício concedido ao italiano foi elogiado pelo presidente da comissão nacional de Anistia, Agmar da Silva:

- Seu gesto, em um tempo não muito distante, vai ser marcado como um gesto, nas últimas décadas, que marcou efetivamente a soberania do nosso país. A Itália não fez o mesmo com a França. E Vossa Excelência e o presidente Lula tiveram a dignidade de fazer prevalecer aquilo que está escrito na nossa Constituição: que somos um povo soberano.

Em Brasília, os advogados de Battisti divulgaram carta escrita por ele, na qual voltou a se dizer vítima de perseguição política do governo italiano e negou envolvimento nos quatro assassinatos pelos quais foi condenado à prisão perpétua.

"Reafirmo minha condição de perseguido político. Não sou responsável por nenhuma das mortes de que me acusam. (...) Fui condenado à revelia em um processo com acusações feitas há mais de dez anos. Meus advogados de confiança foram presos à época e depois foram fabricadas três falsas procurações", disse.

A carta foi entregue na porta do Complexo Penitenciário da Papuda, onde o italiano espera o julgamento de seu processo de extradição no Supremo Tribunal Federal. Em português quase perfeito, Battisti disse estar abalado pelo impasse:"Desde que soube da concessão do refúgio político no Brasil, e sigo preso, a ansiedade, a tensão e o nervosismo me acompanham".

Ontem, a revista "Comunità Italiana" informou que Alberto Torregiani virá ao Brasil para defender a extradição de Battisti. Ele é filho do joalheiro Pierluigi Torregiani, uma das supostas vítimas do ex-ativista, e ficou paraplégico após ser baleado na ação em que o pai foi morto.

oglobo.com.br/pais