Título: Farc devem libertar amanhã policiais e militar
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Fonte: O Globo, 31/01/2009, O Mundo, p. 33

Missão parte para selva amazônica para resgatar 4 reféns. Ex-governador e ex-deputado seriam soltos até quarta-feira.

BOGOTÁ. Uma missão liderada pela senadora Piedad Córdoba e pelo Comitê da Cruz Vermelha Internacional partiu ontem de Bogotá rumo a São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, como parte da operação para resgatar seis reféns que serão libertados pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Na missão serão usados dois helicópteros Cougar do Exército, assim como 16 tripulantes brasileiros.

Piedad, que também esteve envolvida no resgate de outros reféns, informou que os sequestrados serão libertados em três etapas, entre amanhã e quarta-feira. Junto com ela viajam três integrantes do Comitê Internacional da Cruz Vermelha e três ativistas da ONG Colombianos pela Paz. O Brasil fornece o apoio logístico a pedido da Cruz Vermelha. E a organização pediu ao Exército colombiano que sejam suspensas todas as operações militares por pelo menos 36 horas nas regiões onde ocorrerão as libertações.

Carreata quer levar López de volta a Assembleia

Amanhã deverão ser soltos três policiais e um militar em algum ponto da selva colombiana. Na segunda-feira, em outro local, está prevista a entrega do ex-governador de Meta Alan Jara, de 51 anos, sequestrado em 2001. Na quarta-feria será a vez do ex-deputado departamental Sigifredo López, de 45 anos, cativo desde 2002, quando foi levado junto com 11 companheiros da Assembleia Legislativa.

Segundo Piedad, Jara correu risco de vida cinco dias atrás, durante combates entre os guerrilheiros e o Exército.

- Nos disseram que quase mataram Alan Jara. O melhor é apressar a entrega para que não haja nenhum risco para essas pessoas - disse Piedad, sem dar detalhes sobre o combate.

Na madrugada de amanhã, a missão humanitária partirá para um lugar não informado, na selva colombiana, para resgatar os três policiais e o militar, levando-os para Villavicencio, capital de Meta, 120 quilômetros ao sul de Bogotá. No aeroporto serão recebidos por "uma escolta humanitária". Entre os presentes estará o professor Gustavo Moncayo, pai do militar Pablo Emilio Moncayo (sequestrado há dez anos) e que percorreu o país a pé, em 2007, para chamar a atenção para o drama dos reféns. Segundo a imprensa colombiana, no entanto, é pouco provável que seu filho faça parte do grupo a ser libertado amanhã.

Enquanto isso, parentes de militares e policiais em mãos das Farc se reúnem amanhã de manhã na Catedral Primaz de Bogotá para rezar pela libertação de todos os reféns.

Na quarta-feira, está programada uma carreata para levar López do aeroporto de Cali até a Assembleia do Valle del Cauca, onde foi sequestrado em 11 de abril de 2002.

As Farc anunciaram no dia 21 de dezembro a disposição de libertar esses seis reféns - parte de um grupo de 28 cativos que pretende trocar por 500 guerrilheiros presos. Cerca de 700 pessoas são reféns das Farc. Para analistas de conflito, a guerrilha pode ter optado pela libertação devido à forte rejeição que enfrenta entre os colombianos.

Reféns estariam em diferentes acampamentos

Embora nem as Farc nem Piedad tenham explicado o motivo para a libertação ocorrer em três etapas, pessoas próximas à operação contaram que Jara e López estão em acampamentos separados e distantes entre si.

Piedad, uma senadora da oposição, recebeu em 2007 do governo a tarefa de intermediar a libertação dos reféns. Ela, por sua vez, buscou a ajuda do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Mas Uribe cancelou a mediação de Chávez por diferenças com o presidente venezuelano.

Após as libertações unilaterais de seis reféns em janeiro e fevereiro de 2008, as Farc não haviam voltado a mencionar o assunto. Depois disso, a guerrilha sofreu duros golpes, inclusive com o resgate em julho passado de 15 de seus reféns mais valiosos, entre eles a ex-senadora Ingrid Betancourt.

Em Davos, o presidente Álvaro Uribe reiterou ontem, no Fórum Econômico Mundial, sua oferta a membros das Farc para que se desmobilizem e libertem os reféns, acrescentando que não dará anistia, mas oferecendo "liberdade e uma recompensa".

- Hoje, na Suíça, epicentro da luta pelos direitos humanos, faço chegar a todos os guerrilheiros esta mensagem: que se desmobilizem e liberem os sequestrados. Nós não podemos lhes oferecer anistia nem indulto, mas oferecemos liberdade e recompensas - afirmou Uribe. - A guerrilha sabe que cumprimos nossas promessas.