Título: Na disputa do Congresso, os interesses de 2010
Autor: Fernandes, Diana; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 02/02/2009, O País, p. 4

ELEIÇÃO NO LEGISLATIVO: Tucanos continuam apostando em uma aliança com PMDB para sucessão presidencial.

Aliados governistas temem dependência do Planalto diante do PMDB, caso o partido vença na Câmara e no Senado.

BRASÍLIA. Se o PMDB conquistar as presidências da Câmara e do Senado, com as prováveis vitórias de Michel Temer e José Sarney, ganhará mais força ainda no Planalto. Em compensação, a vitória peemedebista dá tranquilidade ao presidente Lula para seu projeto mais importante: a eleição do sucessor em 2010. Ainda que Lula tenha defendido a candidatura do petista Tião Viana (AC), ele sabe que a derrota de Sarney levaria seu grupo a dificultar a vida do governo no Senado e deixaria o PMDB vulnerável ao assédio do PSDB e do governador paulista José Serra. Por isso, a desconfiança dele em relação ao apoio dos senadores tucanos a Viana.

Uma das interpretações feitas no Planalto é que só mesmo o interesse de Serra em atrair o apoio de Sarney em 2010 - ou de pelo menos parte de seu grupo - justificaria o fato de ele ter avalizado o apoio ao petista. Uma derrota de Sarney significaria seu distanciamento de Lula e abriria caminho para uma composição com os tucanos na disputa presidencial.

Aliados petistas descartaram insatisfação de Lula

De olho em 2010, Serra teria virado ontem pelo menos dois votos para Tião.

Foi em meio a essa desconfiança que Lula, no Fórum Social Mundial, teria usado a expressão "tem gato na tuba", para dizer que não cheirava bem a decisão dos tucanos de apoiar Viana. Aliados do petista descartaram a insatisfação de Lula com o argumento de que o presidente se manteve equidistante da disputa no Senado, e que do Planalto Tião contou com o empenho pessoal do chefe do gabinete presidencial, Gilberto Carvalho.

Mesmo considerando que pode ter algum sentido a tese de que ficará refém de um PMDB ainda mais forte, Lula aposta na continuidade do sucesso do seu governo e de sua popularidade para ter a seu lado em 2010 a maior parcela do partido. Além disso, com a vitória no Congresso, o PMDB não teria motivo para abandonar já o governo.

Mas aliados governistas de outros partidos discordam dessa avaliação, porque acham que o PMDB fica muito forte.

- O presidente Lula ficaria menos vulnerável com uma melhor distribuição de forças no Congresso. É péssimo para o governo uma dependência tão grande de um único partido. O PMDB vai avançar sobre o governo com tudo, causando ainda mais um desequilíbrio com as outras forças que apoiam o presidente Lula - avalia o líder do PSB, Renato Casagrande (ES), que apoia Tião Viana.

O deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS), ex-ministro do governo Fernando Henrique e um dos comandantes da campanha de Temer, diz que todos estão de olho no PMDB, porque ele será o fiel da balança em 2010:

- Tanto o PT como o PSDB têm expectativas de que o PMDB passe a apoiar seus respectivos projetos de 2010. Por isso, nesses dois anos, o partido será o fiel da balança. Essa foi a lógica que funcionou na Câmara. Já no Senado, os tucanos ficaram com a certeza de que Sarney jamais apoiaria o PSDB na sucessão de Lula.

- É um erro vincular a eleição no Congresso com a sucessão de 2010. Mas, infelizmente, essas duas disputas estão diretamente ligadas. E tudo o que será decidido no Senado e na Câmara vai ter influência na eleição presidencial - rebate a líder do PT, Ideli Salvati (SC).

Mesmo depois da aliança com Tião Viana, o líder tucano Arthur Virgílio ainda aposta na parceria com o PMDB:

- Acho que a gente vai ter o PMDB de qualquer forma em 2010. Temos uma banda do PMDB, e Lula sabe disso. Agora precisamos juntar as duas bandas - diz Virgílio.

O cientista político Paulo Kramer, da Universidade de Brasília (UnB), avalia que, independentemente dos resultados na Câmara e no Senado, o PMDB seguirá dividido em relação ao governo e à sucessão presidencial. Mas considera que Sarney e Temer vão colaborar para que os dois últimos anos de governo sejam menos turbulentos.

- Sarney e Temer têm o papel de ajudar Lula a encerrar sua própria era. Esses meses marcam o começo do fim da era Lula. O que temos que saber é se vão contribuir para que seja mais ou menos turbulenta, menos acidentada - diz.