Título: Battisti: chanceler italiano cobra apoio da UE
Autor: Araújo, Vera Gonçalves de
Fonte: O Globo, 02/02/2009, O País, p. 5

Para Frattini, Brasil duvidou do viés democrático de um país do bloco europeu: "Como pode Bruxelas ficar calada?"

ROMA. Em entrevista publicada ontem pelo jornal "Il Giornale", de Milão, o ministro das Relações Exteriores da Itália, Franco Frattini, criticou a decisão da União Europeia (UE) de não intervir no caso do ex-ativista político Cesare Battisti, a quem o Brasil concedeu status de refugiado político. A Itália, além de esgotar os recursos judiciais possíveis para garantir a extradição, está tentando, por meios políticos e diplomáticos, fazer o Brasil rever a medida.

- Ao recusar nosso pedido de extradição, o Brasil sustentou que a decisão é fruto dos riscos que Battisti poderia correr na Itália. Isto quer dizer que duvida do teor constitucional e democrático de um país da União Europeia. Como pode Bruxelas (capital da UE) ficar calada diante dessa tese? Para mim, a Comissão Europeia realmente perdeu uma ocasião importante.

Frattini ressaltou que se trata de uma "questão política", e que a Itália não está solicitando apoio "jurídico" à UE. Do ponto de vista da Justiça, as autoridades italianas estão tentando todos os recursos possíveis para garantir que o Supremo Tribunal Federal (STF) decida pela extradição. O julgamento deve ocorrer depois de quarta-feira, quando termina o prazo dado pelo ministro Cezar Peluso para que o Ministério da Justiça e o governo da Itália mandem memoriais sobre o caso.

Ainda na entrevista, o chanceler frisou não ter gostado das palavras do ministro da Justiça, Tarso Genro, que, contrariando decisão do Conselho Nacional Para os Refugiados (Conare), concedeu o refúgio a Battisti. Respondendo a uma pergunta sobre as recentes declarações do brasileiro (que comparou a história do ex-terrorista italiano à dos ativistas brasileiros que lutaram contra a ditadura militar), o chanceler italiano foi duro:

- É o típico político sul-americano ligado às áreas mais radicais da esquerda. Que vê Battista não como terrorista e assassino, mas como um guerrilheiro da liberdade. Pena que não lembre que Battisti agia como um criminoso num país democrático. Mas acho que ele se deu conta de ter cometido um erro na defesa excessiva de Battisti.

Frattini diz que Itália quer continuar amiga do Brasil

O chanceler rotulou de "grotesca" a autodefesa escrita por Battisti. Ele reafirmou que a Itália, que chefiará o G-8 este ano, quer continuar "responsavelmente amiga" do Brasil e pretende convidar o presidente Lula para participar das reuniões, mas sem renunciar a lutar pela extradição de Battisti.

Em entrevista publicada pelo jornal "Il Tirreno", de Livorno, o empresário Domenico Battisti, de 63 anos, defendeu o irmão:

- Na Itália, todos tiveram uma segunda chance, mas Cesare não. Os governos, de direita ou de esquerda, só querem prendê-lo e jogar fora a chave. Há 30 anos que ele vive graças ao meu dinheiro, mas eu e minha mulher não nos arrependemos, porque meu irmão não é o sanguinário terrorista chefe das Brigadas Vermelhas.