Título: Única certeza é o erro
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 02/02/2009, Economia, p. 13

Davos termina sem apontar soluções para a crise. Schwab quer renovar sistema financeiro.

Acena aconteceu num debate no sábado do Fórum Econômico Mundial, animado pelo regente da Filarmônica de Boston, Benjamin Zander, e sua mulher, a psicoterapeuta Rosamund, sobre liderança. Um empresário na platéia levantou-se e, depois de uma breve introdução de sua empresa, desabafou:

- Às vezes, sinto que sou uma fraude.

Davos, este ano, foi um prato cheio para a psicanálise. Com o mundo vivendo sua pior crise em cerca de 80 anos, o Fórum terminou sem que a elite empresarial e política tenha idéia da profundidade do estrago ou do rumo a tomar. Mas com duas certezas: do erro e de que estão todos no mesmo barco.

- É agora que o trabalho mais duro começa - disse o fundador do Fórum, Klaus Schwab, defendendo que a elite se concentre em redesenhar os sistemas bancário e financeiro, bem como a governança das empresas.

Schwab anunciou que o Fórum vai lançar nas próximas semanas uma Iniciativa Global de Redesenho, espécie de força-tarefa para repensar o sistema atual. Ele disse ter apoio de vários líderes, como o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon.

Sem a presença do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, as atenções de empresários e banqueiros reunidos em Davos voltam-se agora para a reunião do G-20 (formado por países ricos e emergentes, como o Brasil) em abril, em Londres. O ministro do Comércio britânico, Peter Mandelson, estará no Brasil em março para discutir a agenda com o governo Lula. Um tema já é certo: o risco de uma onda protecionista no mundo. Ministros do Comércio reunidos em Davos confessaram estar sendo pressionados a erguer barreiras protecionistas.

Murdoch: "As pessoas estão deprimidas"

Davos mergulhou num clima de incerteza e pessimismo nunca visto nem nas piores crises dos anos 90.

- Esqueçam os bancos quebrando: US$50 trilhões em fortuna pessoal desapareceram. As pessoas estão deprimidas e traumatizadas. A crise está piorando! - disse Rupert Murdoch, presidente da gigante de mídia News Corp.

Entre os 2.500 participantes do Fórum de Davos, apenas uma certeza: o erro.

- Wall Street errou. Reguladores erraram. Agências de avaliação de risco erram. Bancos centrais erraram. Políticos erraram. Todos nós erramos! - disse Stephen Roach, do banco Morgan Stanley.

Muitos acusaram os EUA de terem provocado a crise. Mas houve consenso de que é hora de todos, culpados ou não, unirem-se para reerguer a economia global. Antigas certezas de Davos implodiram completamente este ano. Foi o caso da tese do descolamento, segundo a qual economias emergentes, por estarem fortes, escapariam da crise surgida nos EUA. Agora, estão sendo tragados até os chamados bons alunos - aqueles que colocaram suas economias em ordem, como o Brasil. A palavra de ordem neste momento é coordenação.