Título: Libertação tumultuada na selva
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Fonte: O Globo, 02/02/2009, O Mundo, p. 19

Farc soltam 4 reféns em operação prejudicada por interferência do Exército da Colômbia.

BOGOTÁ

Pelo menos 11 horas de espera, incerteza e troca de acusações marcaram ontem a libertação de reféns - três policiais e um militar - pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). A libertação foi anunciada no início da tarde, mas só à noite os quatro homens chegaram Villavicencio, onde foram recebidos por parentes e autoridades com flores e aplausos. De lá, eles seguiriam para Bogotá ainda na noite de ontem.

- Desde o dia 21 de dezembro até hoje estávamos caminhando - contou, emocionado, o policial Juan Fernando Galicia Uribe, um dos libertados. - O mais difícil foram os cordões de pressão montados pelo Exército.

A operação quase foi abortada devido a uma interferência não prevista de militares colombianos, segundo afirmou o jornalista colombiano Jorge Botero, integrante da missão humanitária encarregada de recolher os homens libertados. Em entrevista ao canal Telesur, o comandante local do grupo insurgente, Jairo Martínez, disse que um membro da guerrilha morreu em confronto com o Exército e outro estava desaparecido.

O representante do governo colombiano, Luis Carlos Restrepo, e o comandante das Forças Armadas, general Freddy Padilla De León, negaram que o Exército tenha interferido na operação de resgate dos prisioneiros. Restrepo afirmou que, ao contrário, as operações militares foram suspensas em toda a área por conta da libertação, conforme o combinado.

- Não vamos permitir acusações sem fundamento - disse Restrepo, comissário para a paz. - As garantias foram dadas, não entendemos a razão desse tipo de denúncia.

O chefe do CICV na Colômbia, Christophe Beney, tentou acalmar os ânimos, pedindo prudência de ambas as partes, mas acabou criando mais tensão ao afirmar que a missão "estava tomando um rumo muito delicado" em seus últimos minutos.

Operação começou na sexta, no Brasil

Um comunicado oficial do CICV divulgado no fim da tarde, no entanto, garantia que os policiais Wálter José Lozano Guarnizo, Juan Fernando Galicia Uribe e Alexis Torres Zapata, e o soldado do Exército William Giovanni Domínguez Castro haviam sido libertados no meio da selva colombiana. Os quatro homens foram recebidos por integrantes da missão humanitária encarregada de recolhê-los na selva, entre eles a senadora Piedad Córdoba, três delegados CICV, além dos jornalistas Daniel Samper Pizano e Jorge Enrique Botero e da ativista Gloria Amparo Sánchez.

De lá, em um helicóptero Cougar cedido pelo Brasil, os homens foram transportados para Villavicencio, capital do departamento de Meta, onde eram aguardados por parentes, amigos e a imprensa. Domínguez Castro estava sequestrado desde 20 de janeiro de 2007, enquanto os outros três, todos membros da Unidade Antissequestro da polícia, foram capturados em 9 de junho de 2007.

Está prevista para esta semana a libertação de outros dois reféns: a do ex-governador Alan Jara, de Meta, sequestrado em 2001, que aconteceria hoje; e a do ex-deputado regional Sigifredo López, de Valle del Cauca, preso desde 2002, prevista para quarta-feira. As Farc chegaram a confirmar a libertação dos dois antes dos supostos incidentes com o Exército.

A missão para recolher os reféns no meio da selva ontem teve início na última sexta-feira, quando os dois helicópteros cedidos pelo Exército Brasileiro chegaram a São Gabriel da Cachoeira, na fronteira do Brasil, provenientes de Manaus. No sábado, seguiram para a Colômbia. Na manhã de ontem, eles partiram, de madrugada, para um ponto não informado da selva, onde deveriam recolher os prisioneiros libertados. A previsão era de que os helicópteros voltassem hoje à selva para resgatar o ex-governador de Meta.

A promessa de libertação unilateral dos seis reféns foi feita pelas Farc em 21 de dezembro, em carta enviada a Córdoba.