Título: Petrobras redobra o fôlego
Autor: Ordoñez, Ramona; Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 24/01/2009, Economia, p. 21

Um dia após reforço do BNDES, estatal planeja investir US$174 bilhões até 2013.

Depois de adiar duas vezes o anúncio, refazer todos os seus cálculos devido à crise internacional e recorrer a fontes estatais de financiamento, a Petrobras resolveu colocar o pé no acelerador. A empresa divulgou ontem que irá investir US$174,4 bilhões em seu Plano de Negócios entre 2009 e 2013, um volume 55% maior que os US$112,4 bilhões previstos para o período entre 2008 e 2012. Do total anunciado, US$92 bilhões irão para a área de Exploração e Produção, com aumento de 41,3% em relação aos US$65,1 bilhões do planejamento anterior. A meta da empresa é extrair do solo brasileiro uma média de 3,3 milhões de barris por dia de óleo e gás em 2013, contra 2,176 milhões no ano passado.

Para custear o salto no volume de investimentos, a Petrobras já tem garantidos US$ 11,9 bilhões - ou R$25 bilhões - do BNDES, assegurou o presidente da companhia, José Sergio Gabrielli. Mas ele rejeitou o rótulo do socorro:

- Há uma diferença bastante importante entre a política de investimentos que o governo está fazendo e a de outros países, que têm usado recursos apenas para cobrir os déficits financeiros das empresas. Nesse caso (do Brasil), o investimento não é para cobrir nenhuma situação de dificuldade financeira, é apenas para viabilizar a manutenção do crescimento do investimento produtivo.

O banco ganhou um reforço do Tesouro na última quinta-feira e um dos objetivos era reforçar o caixa da Petrobras. Segundo Gabrielli, US$47,9 bilhões do total anunciado irão para novos projetos em exploração e produção, dos quais US$28 bilhões exclusivamente para o desenvolvimento das descobertas de petróleo na camada pré-sal, que permitirá a produção de 219 mil barris por dia dentro de quatro anos.

Gabrielli disse que, apesar do anúncio vultoso, a Petrobras espera não ter que desembolsar todo esse dinheiro. Segundo ele, o planejamento foi feito considerando os custos atuais, "ainda altos":

- Achamos que os valores atuais refletem uma situação ainda dependente dos preços altos do petróleo dos últimos tempos e percebemos sinais de que haverá queda nos custos dos investimentos. Queremos realizar projetos com custos menores que estes - disse.

Para reduzir os valores dos projetos, a empresa irá renegociar contratos, refazer modelos de licitação e, se for necessário, recorrer a fornecedores internacionais.

- Vamos forçar uma queda bruta (dos custos), como grandes compradores - afirmou.

A área de Abastecimento ficará com o segundo maior volume de recursos: US$46,9 bilhões, com aumento de 58,4% frente ao plano anterior. Contrariando as expectativas do mercado, a empresa manteve os prazos para a construção das refinarias premium de Ceará e Maranhão, para a refinaria de Pernambuco e do Rio Grande do Norte e para o Complexo Petroquímico do Rio (Comperj). A estatal não divulgou o custo de cada projeto.

- Como estamos projetando um crescimento da produção, queremos integrar petróleo e refino e estamos mantendo as datas das refinarias para capturar o valor adicionado da nossa produção - explicou Gabrielli.

Para 2009, empresa terá que captar US$1 bi

Segundo a Petrobras, considerando um preço médio de US$42 o barril do petróleo tipo Brent até 2013, sua capacidade de geração de caixa será de US$120 bilhões. Para Gabrielli, será possível captar os US$54 bilhões ao longo do período, apesar de acreditar que com a redução dos custos, esse volume de recursos poderá ser menor.

Dos US$28,6 bilhões que serão investidos neste ano, ou cerca de R$60 bilhões, a Petrobras precisaria levantar US$18,1 bilhões nas contas de Gabrielli. Segundo ele, além dos US$11,9 bilhões do BNDES, a empresa conta com outros US$5 bilhões, cerca de R$11 bilhões, de um grupo de bancos privados nacionais e estrangeiros. A estimativa de investimentos leva em conta o preço médio do barril do petróleo Brent a US$37 para este ano. A estatal precisaria captar pouco mais de US$1 bilhão.

- Poderíamos pagar com nosso caixa, mas vamos captar. É um plano que apresenta, no curto prazo, viabilidade financeira - destacou o presidente da empresa.

Para o gerente de análises do Modal Asset, Eduardo Roche, o desafio da Petrobras será equilibrar uma situação de expansão dos investimentos e aumento de seu endividamento, em um momento em que sua geração de caixa certamente será menor.

- Ela está indo na contramão de todas as empresas do setor de commodities, que estão reduzindo seus planos. Certamente, se não fosse o BNDES, ela não conseguiria cumprir o investimento para este ano - avalia.

Tradicionalmente, a estatal divulga seu plano de investimentos no segundo semestre do ano anterior ao de vigência. O de 2008/2012 saiu em agosto de 2007. O de 2009/2013 era aguardado para outubro do ano passado. Porém, a diretoria da Petrobras foi atropelada pela crise internacional, que explodiu em setembro e se agravou no mês seguinte. Por um lado, secaram as fontes externas de crédito, onde a petrolífera brasileira buscava a maior parte dos recursos para investimento. Do outro, os preços internacionais do barril de petróleo desabaram. Do pico de US$147, em julho, o barril do tipo leve americano fechou ontem a US$46,47, queda de 68%.

Para se financiar, a Petrobras acabou recorrendo emergencialmente à Caixa Econômica Federal - da qual tomou R$2 bilhões emprestados em outubro, gerando reação dos partidos de oposição, que cobraram explicações sobre a saúde financeira da petrolífera. Mas para estruturar investimentos de longo prazo, a Petrobras precisava de uma soma muito grande. Por isso o BNDES foi acionado.

A expectativa do anúncio do plano fez as ações da Petrobras terem expressiva alta ontem na Bolsa de Valores de São Paulo. Os papéis com direito a voto (ON) atingiram alta de 2,33% na máxima do dia, mas encerraram em queda leve, de 0,25%, com investidores aproveitando os ganhos de curtíssimo prazo. As ações preferenciais (PN, sem voto) chegaram a subir 2,24%, mas fecharam em queda de 0,21%.

COLABOROU Felipe Frisch