Título: Lula cobra da Petrobras construção de refinarias para tratar óleo do pré-sal
Autor: Camarotti, Gerson; Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 24/01/2009, Economia, p. 22

Presidente quer que estatal mantenha investimentos, apesar da crise

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi enfático na reunião do Conselho de Administração da Petrobras. Determinou que a estatal mantenha as metas de investimentos, mesmo com a crise financeira internacional. Na avaliação do Palácio do Planalto, não há como dar andamento à exploração da camada de pré-sal sem ter pela frente a construção das refinarias. Assim, o Brasil passaria a produzir um petróleo mais elaborado, reduziria a dependência das importações de óleo refinado e, ao mesmo tempo, ganharia mais divisas em suas exportações.

Além disso, Lula acredita que, neste momento de turbulência e com fechamento de postos de trabalho, a Petrobras tem papel fundamental como maior empresa brasileira para ajudar a manter a economia aquecida. Sem contar que a estatal é uma grande empregadora. De acordo com o presidente, suspender investimentos agora significa emitir sinais negativos aos investidores internacionais.

Planalto autorizou Petrobras a pedir recursos ao BNDES

Por isso, Lula deixou claro que deseja que a estatal mantenha não apenas os investimentos para exploração do pré-sal, mas também na construção de refinarias, como a Abreu Lima, em Pernambuco. A refinaria pernambucana é considerada fundamental, por exemplo, para a instalação de um pólo petroquímico no estado. Também são vistas como prioritárias as refinarias no Ceará, no Maranhão e no Rio Grande de Norte, todas no Nordeste.

Desde outubro do ano passado, quando a Petrobras decidiu refazer o plano de investimentos de 2009 a 2013, Lula vinha pressionando para que não houvesse um freio nas ações que já eram previstas pela empresa antes da crise. De acordo com uma fonte ligada ao presidente, Lula decidiu dar um tom político à questão, como tem agido neste momento de crise, mas tendo como pano de fundo os reflexos da crise na economia brasileira em 2009, justamente um ano antes da eleição presidencial.

Um ministro confirmou ontem que partiu do Palácio do Planalto o aval para que a Petrobras pudesse pegar empréstimos junto ao BNDES para manter elevado o nível de investimento. Só assim seria possível manter os investimentos programados, em época de escassez de crédito, especialmente no sistema financeiro internacional. Com o aval do BNDES, a Petrobras teria mais oportunidades de obter financiamentos junto a bancos estrangeiros.

Oscilação do câmbio causou atraso no plano estratégico

O argumento usado pelo presidente Lula é que, sem as linhas de crédito internacionais, a estatal teria dificuldade para manter os investimentos previstos antes da crise. Esse mesmo ministro argumentou que, se houver uma mudança do cenário externo, a Petrobras poderá voltar a recorrer a instituições internacionais para obter linhas de crédito. No entanto, considerando a atual conjuntura, o BNDES funciona como a melhor solução.

Técnicos do governo afirmaram que os adiamentos da aprovação do Plano Estratégico da Petrobras pelo Conselho de Administração deveram-se, principalmente, às oscilações no câmbio e nos preços do barril do petróleo no mercado internacional. O fato de o crédito ter secado com a crise, acrescentaram, também contribuiu para a demora.

- Desde o fim do ano passado, a Petrobras vinha recorrendo com cada vez mais frequência ao mercado doméstico - comentou uma fonte.