Título: Aprovado teste com células de embriões humanos
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Fonte: O Globo, 24/01/2009, O Mundo, p. 28

Material será testado pela primeira vez em pessoas; pacientes com lesão na coluna são os voluntários.

WASHINGTON. Pela primeira vez no mundo foi autorizada a realização de um teste, em pessoas, de uma terapia com células-tronco embrionárias humanas. O objetivo inicial do teste, a ser feito com oito a dez voluntários vítimas de lesões na medula espinhal, é testar a segurança do procedimento em seres humanos. Mas também serão avaliados eventuais avanços no quadro clínico. Trata-se de um significativo passo - e um importante teste - para uma das mais promissoras terapias já surgidas nas últimas décadas.

O sinal verde para a pesquisa veio da Administração de Drogas e Alimentos dos EUA (a FDA, na sigla em inglês), na mesma semana da posse de Barack Obama, cujo governo deve levantar as restrições impostas pelo anterior ao financiamento público de estudos com células-tronco.

As células embrionárias são consideradas extremamente promissoras porque, sendo as primeiras que se formam no organismo humano, encerram o potencial de se diferenciarem em qualquer um dos 200 tipos de tecido do corpo. Por isso, seriam revolucionárias no tratamento de lesões e também de doenças degenerativas, como os males de Parkinson e Alzheimer. As células seriam capazes de recuperar os tecidos danificados.

O anúncio do primeiro teste da terapia com células-tronco embrionárias foi feito ontem pela empresa de biotecnologia Geron Corporation, da Califórnia, responsável pelo teste clínico.

"Trata-se, obviamente, de um evento extraordinário", afirmou ontem, em comunicado, o principal executivo da Geron, Thomas B. Okarma. "É o início de uma nova era da medicina terapêutica... em que, para além dos comprimidos, alcançamos um novo nível de cura: a restauração da função de um órgão ou tecido pela injeção de células substitutas saudáveis."

Desafio é controlar a multiplicação celular

A Geron recrutará de oito a dez pessoas que tenham sofrido lesão na medula recentemente. Os pacientes receberão uma injeção de células extraídas de embriões e previamente manipuladas em laboratório para se diferenciarem em células nervosas. A testagem está prevista para começar em junho.

O teste de fase 1 tem como principal objetivo avaliar se os pacientes não apresentarão danos em seu sistema nervoso ou apresentarão tumores. Um dos maiores desafios das terapias com células embrionárias em seres humanos é justamente saber controlar com precisão o desenvolvimento dos tecidos, para que não haja multiplicação celular fora de controle.

Okarma, no entanto, se mostrou bastante otimista:

"Essas células vivas vão se dividir, produzindo mais exemplares de si mesmas e migrando através da lesão depois que o paciente receber a injeção", afirmou no comunicado.

Os pacientes receberão doses baixas de drogas imunossupressoras ao longo dos primeiros dois meses após a injeção. Okarma acredita que as células não serão vistas como agressoras pelo sistema imunológico dos pacientes e serão bem aceitas. Se isso, de fato, acontecer, trata-se de um passo muito importante em relação aos convencionais transplantes de órgãos e tecidos.

A pesquisa com células-tronco embrionárias é tão promissora quanto polêmica por conta do uso de embriões humanos - ainda que sejam usados apenas os descartados em clínicas de fertilização. Por isso, o então presidente Bush proibiu praticamente todo financiamento federal aos estudos, restritos a algumas poucas linhagens remanescentes de 2001.