Título: Cenário é desfavorável em 2009
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 27/01/2009, Economia, p. 19

Fluxo de recursos externos e balança comercial serão determinantes.

Se 2008 foi um ano de contrastes, com recordes nos investimentos estrangeiros de um lado e déficit nas transações correntes de outro, o mesmo não se pode dizer sobre as contas externas este ano. Dificilmente o país deve repetir em 2009 os bons resultados obtidos no fluxo de investimento estrangeiro direto (IDE). A Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), por exemplo, já estimou, para este ano, uma redução destes fluxos no mundo em torno de 21% e o Brasil, segundo especialistas, não deverá ficar imune a essa retração.

Não bastasse isso, se os preços das commodities continuarem caindo, como já vêm ocorrendo, o país não terá como fugir de um novo déficit nas contas externas, ainda que as remessas de dividendos das empresas já estejam caindo, assim como os gastos dos brasileiros com viagens ao exterior.

O economista Antonio Madeira, da MCM Consultores, acha que a grande preocupação este ano deve ser com a balança comercial, que pode despencar, segundo seus cálculos, para algo em torno de US$14 bilhões, contra os US$25 bilhões, registrados em 2008.

- A grande incerteza é o tamanho do tombo, porque tudo depende da extensão da crise financeira global, que ainda é uma incógnita - comentou Madeira, acrescentando que os dados de janeiro já começam a inspirar preocupação.

Já Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Rio), diz que o governo não pode "aceitar nenhum tipo de expansionismo fiscal" porque a adoção deste tipo de política pode comprometer o fluxo de investimento estrangeiro, que, por enquanto, continua num patamar capaz de financiar o déficit em conta corrente.

- Como a retração do fluxo de investimento direto não deve ser linear para todas as economias, o Brasil pode se beneficiar disso - pondera o economista-chefe Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luís Afonso Lima.