Título: Fechando no vermelho
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 27/01/2009, Economia, p. 19

Déficit externo em 2008 tem pior resultado em 10 anos, mas investimento direto é recorde.

Aenxurrada de remessas de lucros e dividendos por parte das multinacionais e o corte quase pela metade do saldo comercial levaram o Brasil a fechar 2008 com o maior déficit em conta corrente - transações de bens e serviços do Brasil com o mundo - dos últimos dez anos e o primeiro desde 2002, na era Lula. A perda líquida foi de US$28,3 bilhões, abaixo apenas dos US$33,416 bilhões negativos registrados em 1998, segundo o Banco Central (BC). As perdas, porém, foram compensadas pela forte entrada de investimentos estrangeiros diretos (direcionados ao setor produtivo) no ano, de US$45,060 bilhões, o maior desde 1947, apesar da turbulência mundial.

O impacto da crise ficou concentrado nas transações correntes (balança comercial, remessas de lucros, viagens) e vem sendo observado desde o último trimestre do ano passado.

- Em 2008, nossas contas apresentaram uma piora significativa mais ao fim do ano, de novembro a dezembro, por força da crise internacional - afirmou o chefe do departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

As remessas de lucros e dividendos feitas pelas multinacionais instaladas no país foram recorde e alcançaram US$33,875 bilhões, 51% mais do que no ano anterior. Só de setembro a dezembro passados, foram US$9,811 bilhões. Por causa da crise, muitas delas aceleraram o envio de recursos para cobrir prejuízo de suas matrizes, como as do setor automotivo, que remeteram US$5,614 bilhões, o dobro do registrado em 2007 (US$2,702 bilhões).

Saldo comercial recuou 40%

Para 2009, disse Lopes, a tendência é de desaceleração, já que as empresas devem sofrer com a crise. Em janeiro, foram enviados apenas US$480 milhões:

- O lucro das empresas vai cair muito. E só remete quem tem lucro - resumiu ele, lembrando que expectativa de remessas do BC para este ano é de US$20 bilhões.

O boom de importações ao longo do ano passado e a queda da demanda mundial, levando o país a vender cada vez menos ao exterior, reduziram ainda mais o saldo comercial, que servia de contraponto nas transações correntes até 2007. O superávit caiu 40% no ano passado, a US$24,746 bilhões. Para 2009, estima-se queda para US$14 bilhões. A retração já é acentuada este mês, que caminha para ser o pior janeiro desde 2001. O déficit é de US$645 milhões até a quarta semana. As exportações caem 21,8% e as importações, 8,8%.

Os gastos com juros também contribuíram para o déficit corrente de 2008, com saldo negativo de US$7,232 bilhões.

Setor produtivo pode atrair US$30 bi

O déficit na conta corrente foi equilibrado pelo investimento direto não só no ano, mas também em dezembro. Para um rombo na primeira de US$2,922 bilhões, entraram para o setor produtivo US$8,117 bilhões, número também inédito para o período e que acabou deixando para trás a estimativa inicial do BC de ingresso de US$40 bilhões no ano.

- O investidor estrangeiro direto é de longo prazo, que também vê bons fundamentos da economia brasileira - afirmou Lopes.

Em janeiro, o investimento já estava em US$2,1 bilhões até ontem, o que deve levar a US$2,5 bilhões no fechamento do mês. Para 2009, o BC trabalha com a projeção de atração de US$30 bilhões. Já as empresas brasileiras deverão investir menos no exterior - após aplicação de US$20,457 bilhões em 2008.

Ainda na conta de capital, os investimentos estrangeiros em carteira (ações, fundos) sentiram fortemente a crise. O saldo ficou positivo em US$1,133 bilhão, contra US$48,390 bilhões em 2007.

A turbulência também atingiu a rolagem de dívida no exterior. Em dezembro, ficou em 47% dos vencimentos, contra os 109% da média do ano. Isso ocorreu porque a crise secou o mercado de crédito. Como elas tiveram que quitar um volume maior, a dívida externa recuou de US$211,381 bilhões em setembro para US$200,192 bilhões em dezembro.

OBAMA BUSCA APOIO DE REPUBLICANOS PARA APROVAR PACOTE, na página 20