Título: Obama obriga montadoras a cortar emissões poluentes
Autor: Martins, Marília
Fonte: O Globo, 27/01/2009, O Mundo, p. 25

Presidente anuncia diminuição de 40% de gases estufa nas ruas até 2020.

Opresidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou ontem a criação de limites mais rígidos para a emissão de gases do efeito estufa dos veículos no país, numa decisão que sinaliza que seu governo adotou a agenda verde à qual se comprometera durante a campanha. A medida, criticada por membros do Partido Republicano, dará somente 18 meses para que as montadoras de adaptem a novas regras, que farão com que o volume de material poluente emitido pela frota de carros dos EUA em 2020 seja 40% menor que a de hoje.

- Pelo bem de nossa segurança, de nossa economia e de nosso planeta, devemos ter a coragem e o comprometimento de mudar - disse Obama. - Esta será a política do meu governo: acabar com a nossa dependência de petróleo estrangeiro ao mesmo tempo em que construímos uma nova economia energética que criará milhões de empregos.

Obama anunciou ontem que os carros de modelo 2011 já deverão estar adaptados às exigências. Os detalhes não foram revelados, mas a meta é ambiciosa e sem precedentes nos EUA: além de emitir menos poluição, até 2020 a frota de carros nas ruas americanas - produzidos no país ou importados - deverá ser mais econômica, com os carros tendo que percorrer 14,9 quilômetros por litro.

Ontem, a General Motors, principal montadora dos EUA e uma das empresas que está recebendo dinheiro do governo para se recuperar, disse estar disposta a produzir veículos mais eficientes e menos poluentes.

"Estamos prontos para trabalhar com o governo Obama e o Congresso com políticas que apoiem soluções significativas e factíveis", disse a GM, que ontem demitiu dois mil trabalhadores em Michigan e Ohio.

Obama afirmou que a ameaça ambiental requer uma ação urgente, que, se não ocorrer, provocará uma "catástrofe irreversível":

- Os EUA não serão reféns da diminuição dos recursos, dos regimes hostis e do aquecimento do planeta.

Republicanos não gostam das medidas

Numa outra decisão que pode forçar a indústria a produzir carros menos poluentes, o presidente anunciou que ordenou a Agência de Proteção Ambiental a avaliar os pedidos do estado da Califórnia de impor limites de emissão de gases tóxicos dentro de suas divisas. O pedido fora negado pelo governo Bush em 2007, apesar de o governador californiano, Arnold Schwarzenegger, ser do mesmo partido do ex-presidente, o Republicano.

- O governo federal deve trabalhar em parceria, e não contra, os governos estaduais que exigem a redução da emissão de gases poluente. A Califórnia mostrou liderança e um espírito acima das divisões partidárias no esforço de atingir parâmetros do século XXI, e uma dúzia de estados já seguiram seu exemplo, o que merece aplauso - declarou Obama.

Na verdade, 17 estados já haviam seguido o exemplo da Califórnia e tentado adotar limites mais rígidos do que os federais. Schwarzenegger aplaudiu a decisão de Obama:

- Agora finalmente está claro que a Califórnia tem um aliado na Casa Branca. Permitir que a Califórnia e outros estados adotem uma política mais rígida de controle de emissões poluentes é uma vitória histórica não só para os ambientalistas como para os americanos, que serão incentivados a usar carros menos poluentes.

O Departamento de Estado anunciou ontem um emissário especial para meio ambiente. Será Todd Stern, que foi o negociador-chefe dos EUA para a redação do Tratado de Kioto, aprovado pelo governo Bill Clinton e depois anulado por Bush

Entre os ambientalistas, a reação foi favorável. Reid Detchon, diretor executivo da Energy Future Coalition, disse que as medidas de Obama terão impacto profundo na economia:

- A nova política de proteção ambiental e de renovação da matriz energética vai permitir que pelo menos metade dos estados americanos adotem imediatamente parâmetros mais rígidos, abrindo um mercado promissor para veículos híbridos e econômicos. Esta era a medida que faltava para levar a indústria a finalmente adaptar-se aos novos tempos.

Mas houve forte reação em setores do Partido Republicano. Antonia Ferrier, porta-voz do líder republicano na Câmara, John Boehner, afirmou que a medida veio na hora errada:

- As montadores do país estão se reestruturando de forma drástica e demitindo apenas para se manterem vivas. E agora estão sendo forçadas a gastar milhões de dólares para cumprir os padrões de emissão da Califórnia, em vez de usar o dinheiro para salvar empregos de americanos.