Título: Não me chamem de homem retrógrado
Autor: Camarotti, Gerson; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 03/02/2009, O País, p. 3

Sarney promete cortar 10% do orçamento, aprovar reformas e lutar contra excesso de MPs.

BRASÍLIA. Com vantagem de 17 votos sobre Tião Viana (PT-AC), José Sarney (PMDB-AP), 78 anos, confirmou seu favoritismo ao ser eleito ontem presidente do Senado pela terceira vez, na disputa mais acirrada que enfrentou na Casa. Seus 49 votos ficaram bem aquém dos 76 obtidos na última vez, quando foi candidato único, em fevereiro de 2003. Com a Casa dividida, Sarney teve de renovar o discurso e rebater críticas de que representava forças conservadoras e viciadas da política brasileira. Prometeu reduzir despesas e retomar as reformas política e tributária, além de restringir as medidas provisórias.

- Nunca meus olhos ficaram como lanternas voltadas para trás. Portanto, não me chamem de um homem retrógrado, como se eu fosse um velho que está chegando aqui, querendo, como um macróbio, não renovar o Senado. Pelo contrário, sempre tive essa vontade. Acho que ser velho e estar aqui disputando, não estou fazendo mais nada do que homenagear a democracia, o Senado, mostrando que o espírito público não envelhece e é dever de cada um de nós, a qualquer momento - disse.

Sarney prometeu um corte linear de 10% no orçamento de R$2,75 bilhões do Senado e empenho na aprovação das reformas. Para mostrar que a amizade com o presidente Lula não interferirá nas suas decisões, disse que lutará contra o excesso de MPs:

- Tenho dever de amizade com muitas pessoas, partidos e políticos, mas não será no Senado que resgatarei isso. Acima disso estão os interesses desta Casa.

Mais tarde, ao receber a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ele voltou a defender mudanças no rito das MPs, mas elogiou o governo:

- O governo Lula colocou o Brasil em outro patamar. Ele sempre contou comigo para essa benemérita tarefa e vou continuar a ajudá-lo.

Num recado ao Planalto, avisou que não pretende interferir na decisão do Senado sobre o ingresso da Venezuela no Mercosul:

- Não vou procurar de maneira nenhuma impor minhas posições à Casa.

Sarney evitou, porém, se comprometer com a cobrança feita pelo líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), para substituir o diretor geral da Casa, Agaciel Maia, nomeado por ele após sua primeira eleição para o cargo, em fevereiro de 1995.

- Essas são decisões que levaremos muito tempo para tomar porque vamos fazer uma avaliação das reformas que implantei.

Enquanto Tião Viana tentou se apresentar como a inovação e se comparar até ao presidente americano, Barack Obama, Sarney apelou para sua longa trajetória, com passagem pela Presidência da República. Ele lembrou que há 50 anos, em 2 de fevereiro de 1959, assumia pela primeira vez como titular na Câmara. E ressaltou que só ele e Ruy Barbosa (1849-1923) tiveram cinco mandatos eletivos na história do Senado na República, sendo que ainda superaria a "Águia de Haia": 33 anos, contra 31 do político da República Velha.

A falta de consenso entre os aliados de Sarney adiou para hoje a eleição dos demais representantes da Mesa Diretora do Senado.