Título: Temer quer TV Câmara nos estados para provar que deputado trabalha
Autor: Jungblut, Cristiane; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 03/02/2009, O País, p. 4

O FUTURO REPETE O PASSADO: Parlamentares calculam que traição foi baixa.

Presidente eleito deve articular nos bastidores para apoiar Serra em 2010.

BRASÍLIA. A hegemonia do PMDB, com o apoio de outros 13 partidos, atropelou as candidaturas avulsas de Ciro Nogueira (PP-PI) e Aldo Rebelo (PCdoB), garantindo o retorno do presidente nacional da legenda, Michel Temer (SP), pela terceira vez à presidência da Câmara. Em discurso antes da votação, Temer anunciou a disposição de investir pesado na comunicação oficial, para provar à sociedade que os deputados trabalham a semana toda. Disse que ampliará os serviços da TV Câmara para que o trabalho dos parlamentares em suas bases políticas seja mostrado ao eleitor. Hoje, a TV Câmara cobre apenas o plenário e as comissões da Casa.

Temer prometeu se "insurgir"contra os "irresponsáveis" que dizem que deputado não trabalha segunda e sexta-feira:

- Para revelar que trabalhamos aos fins de semana, quero ampliar enormemente o nosso setor de comunicação. A TV Câmara, na sexta-feira, no sábado, na segunda-feira, acompanhará as reuniões e audiências de Vossas Excelências nos respectivos núcleos eleitorais, para transmiti-las e mostrar que, muitas vezes, trabalham mais às sextas-feiras, aos sábados e às segundas-feiras lá nos seus estados do que em Brasília.

Político discreto, de poucos discursos no plenário, mas de muita articulação de bastidores, Temer é apontado com virtual aliado do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), na disputa presidencial de 2010.

Presidente da Câmara é o segundo na linha sucessória

Com menos votos do que o contabilizado por aliados na véspera, mas ainda com larga vantagem, Temer foi eleito em primeiro turno para dirigir a Câmara pelos próximos dois anos com 304 votos (de um total de 509 votantes), contra 129 de Ciro e 76 de Aldo.

Com 68 anos, seis mandatos de deputado, doutorado em Direito e ex-secretário de Segurança Pública de São Paulo, Temer será o segundo na linha sucessória da Presidência da República, cargo que já assumiu duas vezes interinamente.

- Não sou um deputado do PMDB, eleito para o PMDB. Sou o presidente da Câmara dos Deputados e é esse o papel que vou representar - afirmou Temer, após assumir o cargo.

Apesar do receio de Temer, a vitória de José Sarney (PMDB-AP) no Senado não contaminou a votação na Câmara. O índice de traição ficou dentro da margem esperada, com 119 deputados dos 14 partidos aliados votando com os adversários de Temer.

Os aliados de Ciro e Aldo tentaram atrasar o início da votação, para que os petistas, principalmente, sofressem o impacto da derrota de Tião Viana (AC), candidato do PT à presidência do Senado, e traíssem o acordo com o PMDB. A estratégia, porém, não funcionou.

Temer minimizou o peso da dupla presidência do PMDB:

- Eu diria que o PMDB já é um partido muito forte e importante, independentemente do que aconteceu aqui.