Título: Crise derruba exportações
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 03/02/2009, Economia, p. 15

Balança comercial registra em janeiro 1º déficit mensal desde 2001: US$518 milhões.

Acrise econômica global fez com que o comércio exterior brasileiro terminasse janeiro com o pior resultado mensal dos últimos oito anos. A balança comercial registrou déficit de US$518 milhões, com exportações de US$9,788 bilhões e importações de US$10,306 bilhões. O último resultado negativo mensal havia sido em março de 2001, quando o déficit ficou em US$274 milhões.

- A crise mundial se reflete na demanda dos países por produtos brasileiros - disse o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral.

Pelo dados divulgados, as exportações do Brasil só não caíram para a Ásia. As maiores reduções foram registradas para União Europeia (27,2%) e América Latina e Caribe (37,4%). Somente para a Argentina, a queda foi de 48,4%. Isso, segundo Barral, reflete o desaquecimento das economias desses países.

As exportações de janeiro recuaram 22,8% em relação ao mesmo mês de 2008. Houve queda em todas as categorias de produtos, principalmente manufaturados (34%), como automóveis e autopeças. Nos semimanufaturados, como couro e ferro-ligas, o recuo foi de 13,7%. Já as vendas de básicos - como petróleo em bruto e carnes - caíram 6,5%.

Barral explicou que, além da demanda menor, a competição aumentou. Ele disse que no caso do aço, por exemplo, países que fizeram estoques estão desovando sua produção a preços muito baixos, deixando o produto brasileiro menos competitivo.

Já as importações caíram 12,6% frente a janeiro de 2008. O país gastou menos com matérias-primas e bens intermediários (recuo de 20,7%), bens de capital (5,4%) e combustíveis e lubrificantes (4,7%). Segundo Alcides Leite, professor de economia e mercado da Trevisan Escola de Negócios, isso mostra desaquecimento da indústria nacional.

Barral disse que a imposição, semana passada, de licença prévia de importações para três mil produtos por três dias não afetou o resultado da balança. Ele disse que a medida - revogada depois de protestos do setor produtivo - foi mal entendida e não deve ser vista como protecionista.

- Houve tentativa de criar dramas shakespearianos, com muitos candidatos a Iago. Mas não foi Otelo, foi, no máximo, "muito barulho por nada" - disse Barral, referindo-se a duas peças de Shakespeare.

Ele reconheceu que, em crises, é comum adotar medidas protecionistas, citando como exemplo Ucrânia, Equador e UE. Mas assegurou que o Brasil recorrerá à Organização Mundial do Comércio (OMC), se necessário.

Barral disse que o quadro negativo da balança deve melhorar em março, quando haverá uma retomada mais forte da produção industrial e o início da safra. Essa também é a avaliação do vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, que cita ainda a previsão de recuperação nos preços de commodities.

Segundo a AEB, a balança comercial terminará o ano com superávit de US$17 bilhões, com exportações de US$163 bilhões. Já o Ministério do Desenvolvimento trabalha com cinco cenários. No pior deles, as vendas externas fecharão em US$158 bilhões, contra US$197,9 bilhões em 2008. Já o melhor cenário aponta exportações de US$202 bilhões em 2009.

No mundo, vendas crescem só 4%

Barral lembrou que o governo estuda medidas para estimular as exportações. Uma recuperação passa por mais crédito, desoneração tributária e busca de novos mercados:

- Há várias medidas para as exportações. São iminentes.

A crise também abateu as exportações internacionais. Segundo estimativas da OMC às quais a agência de notícias AFP teve acesso, "o crescimento começou a declinar no terceiro trimestre e se acentuou até o fim do ano. Para todo o ano de 2008, a OMC calcula crescimento real de 4% das exportações, aponta o documento. Em abril de 2008, a previsão era de 4,5%. Em 2007, a expansão foi de 5,5%.

Já no Brasil as exportações subiram 23,2% no mesmo período. A corrente de comércio do país (exportações mais importações) passou de US$281,266 bilhões em 2007 para US$371,139 em 2008, alta de 32%.