Título: Libertação de reféns fica para hoje
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Fonte: O Globo, 03/02/2009, O Mundo, p. 21
Uribe cancela participação de Piedad e depois volta atrás, atrasando a entrega dos políticos.
BOGOTÁ
As operações para a libertação de dois políticos reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) - das quais o Brasil participa com apoio logístico - devem ser retomadas hoje, às 8h, depois de muita incerteza e de correrem o risco de serem suspensas. O resgate de três policiais e um soldado no domingo gerou controvérsia após a denúncia de operações e sobrevoo militares na área do resgate e da explosão de um carro-bomba em Cali. O presidente Álvaro Uribe, que chegara ontem a excluir a senadora Piedad Córdoba da missão encarregada de receber os reféns, voltou atrás, mas manteve a decisão de deixar de fora dois jornalistas que pertencem à organização Colombianos pela Paz.
Com isso, a libertação de Alan Jara, ex-governador de Meta e sequestrado há quase oito anos, que estava marcada para ontem, foi transferida para hoje. E a do ex-deputado Sigifredo López, programada para amanhã, passou para quinta-feira.
A operação de resgate, no domingo, levou 11 horas. Quando, na noite de domingo, os quatro libertados finalmente chegaram a Villavicencio era evidente a tensão entre os membros da comissão e funcionários do governo. A missão liderada por Piedad denunciou que aeronaves militares haviam sobrevoado o local da libertação, e a guerrilha afirmou que houve combates entre os rebeldes e tropas do governo. O governo admitiu os voos, mas negou que estivessem abaixo da altitude estipulada.
Uribe ficou irritado com o fato de um dos integrantes da missão, o jornalista Jorge Enrique Botero, ter ligado do local do resgate para a emissora Telesur e posto no ar uma conversa com um comandante das Farc. Durante a madrugada, Uribe comunicou que só permitiria a participação da Cruz Vermelha e do Brasil na libertação dos demais reféns, mas, pressionado, voltou atrás em relação a Piedad, que aceitou condições do governo para voltar à missão.
"O presidente da República aceitou a solicitação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) para que a senadora Piedad Córdoba acompanhe a libertação dos sequestrados", disse um comunicado da Presidência.
Uribe, no entanto, chamou de "exaltação do terrorismo" o comportamento de Botero, sem citar seu nome diretamente, e advertiu que não permitirá "que o terrorismo faça festa com a dor dos sequestrados".
Bomba em Cali matou 2 e feriu 39
A decisão de excluir Piedad preocupou parentes de Jara e López, que destacaram a participação da senadora como interlocutora junto à guerrilha.
- As Farc não entregariam os reféns somente à Cruz Vermelha - disse uma pessoa próxima à senadora.
A relação de Piedad com o governo colombiano tem sido tensa, principalmente depois que Uribe tentou afastar a senadora, de oposição, do processo de negociação, no fim de 2007. Posteriormente, ela desempenhou um papel importante na libertação de seis políticos, no início de 2008.
Ontem, a Cruz Vermelha reiterou a importância do cumprimento das garantias de segurança, e o governo prometeu cessar todas as operações militares e voos na região.
Segundo Piedad, um helicóptero parte hoje, de Villavicencio, às 8h, para buscar Jara em algum ponto da selva colombiana. Nem Daniel Samper Pizano nem Botero participarão do novo resgate, numa decisão que foi lamentada pela organização Colombianos pela Paz.
- É uma decisão unilateral que está impossibilitando a sociedade civil (de participar). Isso dificulta o processo - disse Iván Cepeda, membro da organização.
Botero, ex-diretor de informação da Telesur, foi ainda criticado pela mídia colombiana por ceder as imagens do resgate a uma agência de notícias. Ele negou que tivesse recebido US$20 mil por isso.
Os quatro libertados foram apresentados ontem por Uribe e pelo ministro da Defesa, Juan Manuel Santos. São eles os policiais José Lozano Guarnizo, Juan Fernando Galicia Uribe e Alexis Torres Zapata, e o soldado do Exército William Giovanni Domínguez Castro. Com a libertação dos quatro, mais Jara e López, cairá para 22 o número de reféns políticos que as Farc desejam trocar por 500 guerrilheiros presos.
A continuação da operação de resgate foi ainda ameaçada com a explosão de um carro-bomba diante de um prédio da polícia em Cali, que deixou dois mortos e 39 feridos. Há suspeitas de que um dos mortos seja o motorista do carro utilizado para transportar 25 quilos de explosivos, um homem de 24 anos. O outro morto era um idoso de 63 anos. O governo ofereceu uma recompensa de US$42 mil por informações que levem à captura dos autores.