Título: Isso é a sociedade financiando a violência
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 27/02/2009, O País, p. 3

Gilmar Mendes volta a condenar financiamento para sem-terra; Rainha e MST reagem.

TERESINA e SÃO PAULO. Pelo segundo dia, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, que estava em Teresina, criticou o uso de dinheiro público para financiamento de movimentos como o MST. Para ele, isso significa que a sociedade está financiando a violência no Brasil. De acordo com Gilmar, movimentos que invadem terras e ocupam imóveis geram violência.

- Isso é a sociedade financiando a violência no Brasil - disse Gilmar, que acompanhou ontem, em Teresina, o início da inspeção do Conselho Nacional de Justiça, do qual também é presidente, na Justiça do Piauí.

Segundo ele, a lei proíbe esse tipo de financiamento porque os recursos são públicos e sua aplicação não tem essa finalidade.

Em São Paulo, José Rainha Júnior, dissidente do MST que comandou uma série de invasões esta semana em São Paulo, reagiu às declarações do presidente do STF. Rainha pediu ao ministro o mesmo tratamento dado ao banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity e acusado de corrupção pela operação Satiagraha, da Polícia Federal. Dantas foi preso duas vezes ano passado, mas acabou solto após habeas corpus dados por Gilmar.

- Nós estamos lutando pela dignidade humana, e o ministro não pode nos dar tratamento diferenciado ao que deu, por exemplo, a Daniel Dantas. Não se pode deixar os ricos sempre a favor da lei e condenar os pobres por se valerem de lutas - disse o líder dissidente do MST.

Na manhã de ontem, os sem-terra deixaram as fazendas no Pontal do Paranapanema invadidas segunda-feira e retornaram para acampamentos montados às margens de rodovias. Rainha disse que a retirada é um gesto de boa vontade para tentar retomar o diálogo com o governo do estado, que desmarcou reunião com os invasores.

Apenas três áreas ligadas ao MST continuam invadidas no Pontal. Rainha disse que invasão não é crime:

- O ministro está fora do foco. A questão é de ordem social. O Pontal nunca foi um lugar de violência. Aliás, eu sou contra qualquer tipo de violência. Ninguém nunca morreu em conflito por aqui.

Em nota, a direção nacional do MST justificou os assassinatos em Pernambuco. Segundo o comunicado, os acusados de matar quatro seguranças de fazendas no estado agiram em legítima defesa, "para evitar um massacre". De acordo com a nota, pistoleiros e milícias rondavam desde sábado, dia 21, dois acampamentos nas fazendas Jabuticaba e Consulta. Armados, os pistoleiros teriam entrado no acampamento Consulta e passado a agredir um trabalhador. Segundo o MST, o tumulto começou quando um segurança sacou uma arma. Até agora, dois líderes do MST foram presos.

(*) Especial para O GLOBO