Título: Rombo de US$1,75 tri
Autor: Scofield Jr., Glberto
Fonte: O Globo, 27/02/2009, Economia, p. 17

Orçamento de Obama, com maior déficit do pós-guerra, eleva impostos para ricos.

Opresidente dos Estados Unidos, Barack Obama, apresentou ontem ao Congresso a proposta de Orçamento para 2010 (e os próximos três anos) que prevê um aumento de quase US$1 trilhão em impostos e taxas cobrados dos 2,6 milhões de americanos mais ricos, das multinacionais, petrolíferas, empresas poluentes e instituições financeiras, além de um corte de gastos de US$2 trilhões em despesas militares e subsídios industriais. O objetivo é reduzir o déficit público americano de US$1,75 trilhão, em 2009 (o equivalente a 12,3% do PIB, a soma de bens e serviços produzidos no país, o maior nível desde o fim da Segunda Guerra Mundial), e de US$1,2 trilhão em 2010, para US$533 bilhões em 2013, fim do seu mandato. Para 2009, a projeção anterior era de um rombo de US$1,3 trilhão nas contas - ou seja, a previsão aumentou em 34,6%. Em relação ao ano fiscal de 2008 (findo em 30 de setembro), que teve déficit de US$459 bilhões, a alta foi de 281%.

O plano de gastos para 2010 é de US$3,55 trilhões e altera radicalmente as prioridades da era George W. Bush. Saem de cena os gastos militares, os incentivos para a indústria poluente e o agronegócio, bem como o corte de impostos para os mais ricos, e entram os gastos com renovação da matriz energética, ampliação do sistema educacional e um fundo para universalização do sistema de saúde. Este, no valor de US$634 bilhões, quer incluir no sistema 47 milhões de pessoas que hoje não têm seguro-saúde.

- Estes são tempos em que você não tem condições de redecorar sua casa, e há momentos em que você tem de se concentrar em reconstruir a sua fundação - disse Obama. - Há aqueles anos, que ocorrem uma vez numa geração, quando olhamos para onde o país esteve e admitimos que precisamos dar fim a um passado problemático, que as dificuldades que encaramos exigem que comecemos a trilhar um novo caminho. Este é um desses anos.

Reserva para bancos de US$250 bi

O Orçamento de 2010 traz também uma reserva de contingência de US$250 bilhões - que pode ou não ser usada - para comprar mais participações em bancos. Este seria o custo para o contribuinte, pois o governo calcula que essas compras possam atingir US$750 bilhões, já que boa parte será transformada em ações que deverão ser revendidas no mercado, com algum lucro para o Tesouro. É um montante US$50 bilhões acima do primeiro pacote de US$700 bilhões, do governo Bush. Ontem, a gigante hipotecária Fannie Mae anunciou ontem que vai retirar US$15,2 bilhões de sua linha de crédito com o Tesouro, de US$200 bilhões. A empresa divulgou um prejuízo de US$58,7 bilhões em 2008.

No Congresso, os republicanos foram os primeiros a criticar o "pobre exemplo de disciplina fiscal".

- Infelizmente, enquanto o povo americano está apertando os cintos, Washington parece estar afrouxando o seu - disse o líder republicano no Senado, Mitch McConnell.

Mas será difícil brigar contra um Orçamento que distribui renda ao sobretaxar ou acabar com os incentivos dos mais ricos para viabilizar programas sociais. As famílias americanas com renda anual acima de US$250 mil verão seus impostos aumentarem nos próximos anos. Quem ganha menos receberá US$770 bilhões em cortes de impostos e novos incentivos.

Outro ponto inédito no Orçamento é a emissão pelo governo de títulos que funcionariam como autorização para poluir (lastreados em projetos que captam carbono da atmosfera), a serem comprados em leilão pelas empresas.