Título: Papa da economia
Autor:
Fonte: O Globo, 27/02/2009, Economia, p. 18

Crise vai parar em encíclica de Bento XVI, que denunciará injustiças econômicas.

CIDADE DO VATICANO e BERLIM. A crise econômica, quem diria, vai parar em uma encíclica da Igreja Católica, forma mais elevada de escrita dos papas, direcionada aos membros da Igreja.

Em pronunciamento ao clero ontem, o Papa Bento XVI, Joseph Ratzinger, afirmou que a Igreja Católica tem obrigação de denunciar as injustiças econômicas que levaram à crise financeira global e que tratará do assunto em sua próxima encíclica.

O Pontífice afirmou que a Igreja deve "denunciar esses erros fundamentais que foram demonstrados no colapso dos grandes bancos americanos".

Ele atribuiu a crise econômica à avareza humana e à idolatria que vão contra o verdadeiro Deus.

- Na quebra dos grandes bancos americanos, se vê o principal erro: a avareza humana e a idolatria que vão contra o verdadeiro Deus, da falsificação da imagem de Deus por outro deus, o deus Mamon, da avareza.

O Papa Bento XVI já havia afirmado que o sistema financeiro global é autocentrado, míope e despreocupado com os pobres. Em seu pronunciamento de Ano Novo, ele fez um apelo pela solidariedade mundial para combater a pobreza, agravada pela crise financeira.

Ontem, o Pontífice afirmou aos cerca de 500 representantes do clero presentes que trabalha em uma encíclica "nesses tempos difíceis" porque, "por um lado, é necessário falar com competência e, por outro, com a consciência e a ética do Evangelho".

Esta será a terceira encíclica escrita por Bento XVI e será chamada de "Caritas in Veritare", ou "Caridade na Verdade". A publicação está prevista para a primavera da Europa, a partir de março. O estilo da encíclica é geralmente acadêmico e professoral, com citações de santos, filósofos e escritores.

Na Alemanha, onde nasceu Bento XVI, foi divulgado mais um dado negativo da maior economia europeia. Mais 63 mil trabalhadores perderam o emprego no país em fevereiro, elevando o total de desempregados para 3,552 milhões. A taxa de desemprego na Alemanha subiu de 8,3% em janeiro para 8,5% em fevereiro.

- A situação econômica difícil está afetando o mercado de trabalho em fevereiro - disse Frank-Jürgen Weise, do Departamento de Trabalho.

Segundo ele, no entanto, a redução da jornada de trabalho tem ajudado a amenizar o impacto da crise no número de desempregados no país. O Departamento de Trabalho registrou redução de jornada de 201 mil trabalhadores em dezembro.