Título: Não é bem assim
Autor: Éboli, Evandro; Perboni, Juraci
Fonte: O Globo, 28/02/2009, O País, p. 3
BRASÍLIA. Apesar de o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, afirmar que não é possível saber se as entidades que recebem verbas são ligadas a grupos que invadem fazendas, os vínculos do MST com associações são mais do que evidentes. Em Brasília, a Associação Nacional de Cooperação Agrícola (Anca) e o MST sempre foram uma coisa só. Sem qualquer registro na Receita Federal, o MST (nome fantasia) sempre utilizou a Anca - entidade com CGC e registro em Junta Comercial - para fechar todos os seus negócios com o governo federal. Embora Cassel alegue não saber, era comum ligar para os números do MST em Brasília e, do outro lado da linha, ouvir a telefonista: "Anca, bom dia". Se um interlocutor desavisado achava que tinha errado o número do MST, era logo corrigido por quem atendia e explicava que tudo funcionava no mesmo endereço. No Incra, todos sabem disso.
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que presidiu a CPI da Terra, diz que MST e Anca são as duas faces de um mesmo movimento. Com base nas informações acumuladas pela CPI, o senador afirma que a Anca é uma cooperativa criada para receber recursos em nome do MST. O movimento não pode receber recursos diretamente do governo porque não tem personalidade jurídica.
- A Anca e também a Concrab (Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária) são um braço avançado do MST. É através delas que o governo repassa recursos ao MST - diz Dias.
O senador afirma ainda que as irregularidades apontadas pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, em relação à transferência de recursos públicos para o MST não são novidade. Segundo ele, dados da CPI mostram que recursos da reforma agrária foram usados para a confecção de cartilhas e até de CDs do movimento. Dirigentes da Anca em Brasília e em São Paulo não foram localizados para responder ao GLOBO.