Título: Uma queda de 6,2%
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 28/02/2009, Economia, p. 23

EUA têm maior retração trimestral desde 1982. Recuperação não deve vir neste semestre.

Aeconomia dos Estados Unidos encolheu a uma taxa anualizada de 6,2% entre outubro e dezembro do ano passado, de acordo com revisão feita no cálculo do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país). A retração ficou bem acima do percentual calculado em janeiro, de 3,8%, informou ontem o Departamento de Comércio americano. Em todo o ano passado, a economia do país acabou crescendo 1,1%, impulsionada pelas exportações e restituições de Imposto de Renda no primeiro semestre de 2008.

Trata-se do maior recuo da economia americana desde o primeiro trimestre de 1982, quando houve retração de 6,4%, e bem acima da estimativa do mercado, de 5,5%. No terceiro trimestre, a economia já havia recuado 0,5%. E o pior: segundo cálculos do próprio governo, não há uma previsão de melhora nos indicadores até pelo menos o fim do segundo trimestre deste ano, quando os efeitos do pacote de recuperação econômica do presidente Barack Obama, de US$787 bilhões, finalmente começarem a se fazer sentir.

- Com os dados da economia ficando piores a cada dia, anulando os benefícios da queda nos preços do petróleo, e com os efeitos do pacote de ajuda esperados somente para o segundo trimestre, a contração no primeiro trimestre deste ano deve ser tão ruim quanto a do trimestre anterior - afirmou o economista Paul Ashworth, da empresa de consultoria e pesquisa Capital Economics.

Consumo, motor da economia, cai 4,3%

Segundo Ashworth, a economia americana não verá índices positivos até pelo menos 2010. Outros economistas também expressaram preocupação.

- Está montado o cenário para uma queda de 5% ou mais no trimestre corrente - disse Jennifer Lee, economista da BMO Capital Markets.

Robert Barbera, economista-chefe da corretora ITG, disse que o primeiro trimestre será tão ruim quanto o anterior, ou ainda pior.

O quadro de deterioração, explica o Departamento de Comércio, contaminou praticamente todos os componentes do PIB no quarto trimestre, com queda nos gastos dos consumidores, nos investimentos e nas exportações. As milhares de demissões nas indústrias americanas estão encolhendo a renda das famílias, o que afeta diretamente o consumo no país - responsável por dois terços da atividade econômica americana - e afasta as pessoas de empréstimos ou dívidas longas, como compras de carro. Não é à toa que os setores automobilístico e financeiro sejam os mais afetados pela atual recessão, iniciada em dezembro de 2007.

A diferença no cálculo do PIB foi de 2,4 pontos percentuais, o equivalente a US$74,4 bilhões, informou o Departamento de Comércio. Ainda haverá mais uma revisão, em março.

No primeiro cálculo do PIB do quarto trimestre, o consumo havia encolhido 3,5%, mas, na revisão, esse recuo aumentou para 4,3% (a maior queda trimestral desde 1980) como consequência da queda na vendas de imóveis. As exportações, uma das maiores alternativas à queda no consumo doméstico para manter as indústrias funcionando, caíram 23,6% (anteriormente, a queda era de 19,7%), o maior recuo desde 1971. Por fim, os investimentos caíram 21,1%, a maior queda desde 1975, ante uma estimativa preliminar de 19,1%.

Índice de confiança volta a recuar

Entre os aspectos mais preocupantes do relatório divulgado ontem, segundo Joseph Brusuelas, diretor da Moody"s Economy.com, estão os dados de investimento das empresas. Os gastos com equipamento e software, por exemplo, caíram à taxa anualizada de 28,8%. Ele explicou que a recuperação da economia não virá dos consumidores, mas do setor de tecnologia e dos investimentos em capital das empresas, o que torna os dados do quarto trimestre mais preocupantes.

Mas Robert Dye, economista sênior do PNC Financial Services Group, disse à agência RTT News estar esperançoso de que o quarto trimestre tenha sido o pior da atual recessão. Caso contrário, acrescentou, "teremos de pensar em rolar isso até 2010". Atualmente, ele espera que a recessão acabe no fim deste ano.

Dois novos indicadores divulgados ontem mostram um cenário ainda desolador para a economia americana. O barômetro da atividade econômica do Instituto de Gerenciamento de Estoques de Chicago mostrou o quinto mês consecutivo de contração. Apesar de o indicador ter passado de 33,3 em janeiro para 34,2 pontos em fevereiro, uma leitura abaixo de 50 indica retração.

Já o índice de Confiança do Consumidor, calculado pela Universidade de Michigan com a Reuters, recuou de 61,2 para 56,3 pontos, na mesma comparação. O indicador vinha crescendo desde novembro.

A França, por sua vez, deve reduzir suas projeções para a economia este ano. Segundo fontes citadas pelo jornal "Le Monde", o governo francês vai divulgar em breve sua revisão, estimando retração entre 1% e 1,5% este ano.

(*) Com "New York Times" e agências internacionais