Título: No encontro com Hillary, Amorim deve reclamar do Compre América
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 24/02/2009, Economia, p. 13

China poderá se aliar ao Brasil contra o protecionismo na reunião do G-20

BRASÍLIA e SANTIAGO. Pela primeira vez desde a posse do presidente Barack Obama, há cerca de um mês, duas autoridades de primeiro escalão de Brasil e Estados Unidos - o chanceler Celso Amorim e a secretária de Estado americana, Hillary Clinton - estarão frente a frente amanhã, em Washington. Oficialmente, a reunião será para preparar a visita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará aos EUA, em 16 e 17 de março. Mas oportunidade não deve faltar para que Amorim leve a Hillary a preocupação do governo brasileiro com as recentes medidas de estímulo ao setor produtivo americano, cujo ponto mais polêmico é o "Compre América", que atingirá as exportações brasileiras de produtos siderúrgicos.

A cláusula exclui o Brasil e outros países que não são signatários do acordo de compras governamentais da Organização Mundial do Comércio (OMC) do clube de fornecedores de materiais, como o aço, para projetos financiados com recursos públicos nos EUA. O governo brasileiro vem examinando os aspectos jurídicos da medida, tentando encontrar uma brecha para contestá-la na OMC. Uma das possibilidades seria alegar que, na verdade, o Estado americano estaria subsidiando o setor privado e discriminando outros mercados.

Cepal alerta para efeitos do pacote na América Latina

O chanceler Celso Amorim está particularmente atento ao que poderá acontecer na reunião do G-20, que vai ocorrer no início de abril, em Londres. Representantes das 20 principais economias do mundo vão discutir o que fazer para minimizar os efeitos da crise financeira internacional, e o protecionismo deverá ser um dos principais temas da pauta. Na semana passada, Amorim ouviu do vice-presidente da China, Hu Jinping, que os chineses estão dispostos a se aliar ao Brasil nessa luta, no encontro do G-20.

Lula vai participar de uma conferência internacional sobre biocombustíveis, no dia 16 de março, em Nova York. Mas existe a expectativa de que Lula se reúna com o presidente americano Barack Obama no dia seguinte, em Washington.

O pacote americano de estímulo fiscal vai ter impactos na América Latina, "alguns preocupantes, como o Compre América", afirmou ontem a mexicana Alicia Bárcena, secretária-executiva da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), órgão vinculado à ONU:

- A recuperação social não será tão rápida como a econômica, principalmente por causa da queda da demanda e do aumento do desemprego.

Taxa de desemprego deve subir de 7,5% para 8,1%

Segundo estimativas da Cepal, a taxa de desemprego deve subir de 7,5%, em 2008, para até 8,1% este ano. Mesmo reconhecendo que a região está mais bem preparada para enfrentar essa crise, técnicos da Cepal alertam que as exportações estão caindo, assim como os preços dos produtos vendidos para o exterior. Além disso, há piora generalizada no mercado de trabalho, no consumo e no investimento.

Um dos efeitos mais claros da crise é a queda no envio de dinheiro dos emigrantes que trabalham nos Estados Unidos e na Europa. A valorização do dólar diminui o impacto na renda das famílias, mas há o temor de um retorno em massa dos emigrantes.