Título: Lula engaja o PT na pré-candidatura de Dilma
Autor: Tabak, Flávio
Fonte: O Globo, 23/02/2009, O País, p. 4

Apesar das críticas da oposição, ministra manterá ritmo de viagens para se tornar conhecida.

BRASÍLIA. A 20 meses da eleição presidencial de 2010, o presidente Lula assume, em ações de bastidores, que já é hora de preparar a caminhada da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, rumo ao Planalto e escalou o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), como o coordenador da pré-candidatura da ministra. Nessa primeira fase, ele será o responsável por organizar a agenda política da ministra, mas contará com a articulação de outros petistas e aliados.

A avaliação do presidente é que é preciso dar visibilidade neste momento à ministra Dilma para que ela possa crescer nas pesquisas e se consolidar como a candidata petista. Lula também quer carimbar a ministra como a sua candidata junto à população. Para isso, o primeiro passo é torná-la conhecida do grande público, o que significa que não reduzirá as viagens, apesar das críticas da oposição.

- Não haverá coordenação informal. Agora, como não é campanha, haverá um processo de integração natural de todos do PT. Até porque, até então, ela não era ligada à vida partidária. Por isso, vamos fazer reuniões nos estados para iniciar esse contato. Naturalmente, ela caminha para ser a candidata do PT - diz Berzoini.

Líderes regionais são chamados para ajudar

Foi o próprio Lula que também escalou líderes regionais para ajudar informalmente na campanha: os ex-prefeitos Fernando Pimentel (Belo Horizonte), João Paulo (Recife) e Marta Suplicy (São Paulo), além do ex-governador Jorge Viana (PT-AC), que vai cuidar da agenda da ministra no Norte.

Do time do Planalto que tem ajudado informalmente Dilma, o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, tem atuado como o elo entre a ministra e o partido. O ministro Franklin Martins (Secretaria de Comunicação) é consultado com frequência para assuntos de mídia. E até mesmo o publicitário João Santana já é citado por integrantes do PT como o nome para orientar, informalmente, a área de marketing.

Dilma está também se recompondo com o PT do Rio Grande do Sul, grupo com o qual nunca teve um trânsito muito fácil, porque era do PDT. Desde dezembro, ela pôs em seu gabinete, como assessor especial, o ex-deputado gaúcho Estilac Xavier. Ligado ao ministro da Justiça, Tarso Genro, por ter sido secretário de Obras de Porto Alegre em sua gestão, nos anos 90, e ex-integrante do diretório nacional do PT, ele é apontado como uma espécie de assessor político informal para ajudar nas questões partidárias, mas a Casa Civil sustenta que sua função no gabinete é técnica.

Ao mesmo tempo que Dilma vai conhecendo a família petista país afora, Lula também já tratou de aproximá-la de aliados importantes do PMDB. Durante a campanha para a presidência do Senado, Dilma, orientada pelo presidente, visitou o senador José Sarney, quando ele adiou um encontro com Lula por causa de uma gripe.

Já na Câmara, a interlocução é com o presidente da Casa, Michel Temer (SP), e com o líder do partido, Henrique Eduardo Alves (RN). Além disso, o presidente pediu que o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, cuide de atrair o partido para o palanque da ministra em 2010.

- A ministra Dilma passou a se aproximar do PMDB. Ela tem conversado bastante com as lideranças do partido - confirma Henrique Alves.

O trabalho de toda essa equipe é pavimentar a candidatura de Dilma. Uma avaliação interna feita no Planalto é que a oposição tem ajudado, até agora, nessa estratégia de torná-la mais conhecida, ao centrar seus ataques na ministra, com citações diárias a seu nome. Mas a decisão recente de Serra de gastar mais suas energias com a verdadeira adversária, Dilma, do que com Aécio, reforça o plano dos petistas e governistas de intensificar a presença da ministra no Centro-Sul do país.

Depois do jantar em São Paulo, organizado por Marta Suplicy, já há demanda de outros oito encontros regionais entre Dilma, petistas e aliados. O próximo deve ocorrer em Recife, logo depois do carnaval. A agenda dessa primeira fase petista prevê dois encontros no Nordeste, dois no Sul, dois no Centro-Oeste e outros dois no interior de São Paulo - este último para tentar neutralizar o favoritismo de Serra.