Título: Opção pelo continuísmo
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 04/02/2009, O País, p. 5
PALAVRA DE ESPECIALISTAS
Roberto Romano - Professor da Unicamp
Fernando Abrúcio - Professor da FGV
Rubens Figueiredo - Presidente do Cepac
SÃO PAULO. As eleições de José Sarney e de Michel Temer para as presidências do Senado e da Câmara reforçam o corporativismo nas duas Casas, aumentam a descrença do eleitor em relação ao Congresso e revelam a opção de deputados e senadores por manter o poder, segundo analistas políticos ouvidos pelo GLOBO. Para o professor de Ética e Filosofia da Unicamp, Roberto Romano, o resultado mostrou que os legisladores estão preocupados com a pauta interna, e não com discussões de interesse público.
- Não houve, durante as campanhas, qualquer sinalização de assuntos que pudessem servir à indústria, à sociedade civil ou aos outros poderes. Não houve nada que tratasse, por exemplo, de uma política de reconquista da isonomia dos três poderes. O Congresso se mostrou, mais uma vez, como um poder que legisla em causa própria - disse Romano.
Ele lembrou que a questão do foro privilegiado, por exemplo, "não passou nem pelo horizonte" na discussão que sucedeu a eleição.
Para Fernando Abrúcio, professor de Política da Fundação Getulio Vargas, a primeira análise deve recair sobre quem os escolheu como candidatos.
- A maioria dos deputados e senadores não quer mudar o Congresso. Não quer discutir questões como voto secreto, por exemplo, daí a opção pelo continuísmo - analisou Abrúcio, para quem o resultado dessas eleições reflete ainda o descaso da sociedade sobre as questões relativas ao Congresso.
- Estamos num país em que, para a sociedade e a mídia, mais interessam questões do Executivo. Os rumos no Congresso se dão de forma corporativista. Isso é culpa também do alto índice de amnésia eleitoral que existe no país - disse Abrúcio.
O presidente do Centro de Pesquisa, Análise e Comunicação (Cepac), o cientista político Rubens Figueiredo, endossou a tese de Abrúcio:
- No Brasil, a adesão à democracia obedece mais à lógica da aprovação do governo do que do funcionamento das instituições - disse. - A eleição deles (Temer e Sarney) dá a idéia de mesmice na política. É o mesmo Congresso que levanta a bandeira da reforma política, mas com viés corporativista, que trabalha por cargos e benefícios.