Título: Petrobras já ameaça cancelar projetos caros
Autor: Ordoñez, Ramona; Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 05/02/2009, Economia, p. 19

Diretor diz que empresários brasileiros têm que reduzir valor de equipamentos. Transpetro compra mais barato da China

A Petrobras ameaça cancelar projetos se não conseguir obter de seus fornecedores de materiais e equipamentos uma redução de custos compatível com a queda das cotações do petróleo nos últimos meses. Segundo o diretor de Exploração e Produção da empresa, Guilherme Estrella, o objetivo da Petrobras é conseguir uma redução de pelo menos um terço nos preços, valor equivalente à queda dos preços do petróleo.

- Se não cair não há projetos. Não estamos numa queda-de-braço nem numa disputa com o empresário brasileiro. Estamos conclamando para nos juntar, pois é um projeto que vai ajudar o país, a Petrobras e os empresários - afirmou Estrella.

O diretor informou que em alguns casos a Petrobras já conseguiu obter redução de preços. Ele, contudo, não especificou em quais contratos isso ocorreu. Estrella afirmou que a intenção da Petrobras é continuar aumentando a participação nacional nas encomendas, mas quer preços e prazos competitivos.

Ao detalhar os investimentos da companhia para o período até 2013 - no valor de US$104,6 bilhões, dos quais US$92 bilhões serão no país - o diretor destacou o potencial da economia brasileira, mesmo diante de um quadro de crise global.

- A crise financeira atual é a grande oportunidade para o país crescer porque temos projetos para investir - disse.

Mas os fornecedores brasileiros estão reticentes em repassar internamente a queda dos preços no mercado internacional. As siderúrgicas, por exemplo, querem uma intervenção do governo federal nos leilões que a Transpetro (empresa de transporte da Petrobras) realiza para compra de aço.

Siderúrgicas: estatal não pode gerar vagas na China

A estatal adquiriu anteontem 18 mil toneladas de chapas grossas de uma siderúrgica chinesa, por US$600 a tonelada. A brasileira Usiminas era uma das 11 siderúrgicas presentes na disputa, mas não aceitou praticar o preço internacional.

Para o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), Marco Polo de Mello, os preços das usinas estatais asiáticas são predatórios. Ele defendeu a compra do aço no Brasil, mesmo com preço maior que o chinês. Na prática, a proposta cria uma barreira contra a importação e blinda os preços do aço nacional ante a queda das cotações mundiais. A Usiminas informou que, juntamente com o IBS, está preparando a documentação para instalar um processo por causa de práticas desleais de comércio.

- Como empresa estatal, a Transpetro não pode privilegiar a importação chinesa, que é subsidiada, gerando emprego na China - disse Marco Polo, que solicitou audiência com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, para tratar do assunto.

A Transpetro pretende comprar 440 mil toneladas de aço para a construção de 42 petroleiros, encomendados a estaleiros nacionais. Até agora, adquiriu 55 mil toneladas, das quais apenas 12 mil no Brasil. Em nota, a Transpetro informou que "repudia as articulações da Usiminas de tentar impor preços".