Título: Uribe rebate críticas de ex-refém das Farc
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Fonte: O Globo, 05/02/2009, O Mundo, p. 24
Presidente colombiano diz que está disposto ao diálogo, mas manterá combate à guerrilha.
CALI. Numa missão marcada por tropeços, o presidente Álvaro Uribe se reuniu terça-feira à noite com o ex-governador Alan Jara que, libertado na véspera, havia acusado o governo de não ajudar os reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Após a reunião, Uribe rebateu as críticas, se disse disposto ao diálogo para a paz, mas reiterou a decisão de combater a guerrilha.
Chegaram ontem a Cali os dois helicópteros brasileiros que serão usados no processo de libertação do sexto refém das Farc em quatro dias. Se tudo correr como o previsto, o ex-deputado Sigifredo López deverá ser entregue hoje pelos guerrilheiros à senadora oposicionista Piedad Córdoba e ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
- Muitos que saíram de lá me criticaram muito. Há desavenças comigo, porque alguns querem que as libertações sejam feitas de certa maneira. Tenho sido muito franco para não enganar o país, explicando o que podemos aceitar e o que não podemos. Mas estamos nessa luta - disse Uribe. - Estamos prontos para a paz, mas jamais estaremos prontos para o engano.
Nenhum ex-refém criticara Uribe de forma tão contundente. Numa de suas principais críticas, Jara disse que a guerra convinha a Uribe, assim como Uribe no poder convinha às Farc.
Diante dele, Uribe manifestou sua gratidão a Piedad - que dias antes ele chegara a excluir da missão - e ao Brasil, que forneceu helicópteros e tripulação para a operação. Uribe anunciou que telefonará para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para agradecer o apoio.
Uribe confirma Restrepo como comissário para a Paz
O presidente criticou os jornalistas Jorge Enrique Botero, que fazia parte da missão e que pôs um chefe das Farc em contato com um canal de TV, e Hollman Morris, correspondente da Rádio França Internacional, por "apologia ao terrorismo".
O atrito com os dois deu origem a uma nova crise, quando na terça-feira o comissário para a Paz, Luis Carlos Restrepo, proibiu o acesso de jornalistas ao aeroporto de Villavicencio para cobrir a chegada de Jara. A ordem de Restrepo acabou derrubada pelo próprio governo. O comissário retornou, então, a Bogotá, onde teria entregado sua carta de demissão, segundo a imprensa. Fontes no governo disseram que o presidente não havia lido a carta e que os dois deveriam conversar ainda ontem sobre o assunto.
Uribe afirmou ontem que Restrepo continua no cargo e que tem confiança nele.
- Ele fez um esforço enorme. O país desmontou os paramilitares - disse Uribe.
Ontem, os três policiais e o soldado libertados no domingo pediram à Rádio França Internacional que não divulgue a entrevista que deram a Morris, dizendo ter sido coagidos pelas Farc. "Fomos obrigados a dar a entrevista, manifestando estritamente o que os guerrilheiros queriam", diz a carta assinada por Walter Lozano Guarnizo, Alexis Torres Zapata, Juan Fernando Galicia Uribe e pelo soldado William Domínguez Castro.