Título: Edmar se defende, mas não explica dívida e afirma que não renuncia
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 06/02/2009, O País, p. 4

CORREGEDOR NA BERLINDA: "Estão confundindo o castelo com o Museu do Louvre".

Deputado se complica ao tentar justificar pendências de empresas com o INSS

BRASÍLIA. Depois de ver sua frágil situação fiscal estampada em reportagens dando conta de seu milionário patrimônio não declarado, da repercussão de suas afirmações corporativistas e da divulgação do processo no Supremo Tribunal Federal (STF) em que é investigado por apropriação indébita de contribuições do INSS, o novo corregedor da Câmara, Edmar Moreira (DEM-MG), convocou ontem entrevista para se explicar. Negou a intenção de renunciar ao cargo, mas se complicou ao tentar explicar dívidas de suas empresas com o INSS:

- Renunciar por quê? Estou sendo condenado por qual tribunal?

Edmar até dá conselho para Barack Obama

Ao ser lembrado que três auxiliares do presidente americano Barack Obama renunciaram, após denúncias de sonegação fiscal, criticou-o pelas escolhas:

- Ele deveria ter mais cuidado e critério para escolher seus secretários.

Firme pela manhã, na decisão de não renunciar ao cargo, Edmar disse achar correto que seja alvo de um processo por quebra de decoro parlamentar. Mas afirmou que, como corregedor, não tomará essa iniciativa:

- Acho absolutamente justo. Só que não vou ensejar que isso aconteça ou me antecipar. Porque vou prestar todo esclarecimento à Justiça do imóvel (o castelo) e do processo que está sub judice.

O corregedor admitiu a existência do processo no STF, mas se confundiu, dizendo não saber o tamanho da dívida; depois garantiu que tudo foi pago.

- Não sei quantificar essa dívida (do INSS). Não tenho conhecimento da dívida. Não fui nem denunciado nem ouvido no processo. Isso já foi pago há muito tempo, tenho todos os recibos. Estou ansioso para ser ouvido. Você há de convir que uma empresa que já teve oito mil funcionários tem processo de reclamações trabalhistas.

Ele afirmou que o castelo foi transferido, com todos os seus bens, para os dois filhos:

- Em 18 de dezembro de 1993 transferi os bens que tinha para meus filhos, com escritura pública. A partir daí, eles é que prestam contas ao Imposto de Renda. Dizem que custa US$25 milhões, mas é exagero; custa no máximo R$25 milhões.

Corregedor diz que queria aumentar potencial turístico

O corregedor rejeitou a descrição do imóvel como um palácio luxuoso e explicou que fez o hotel em estilo europeu porque a região montanhosa é muito bonita. Disse que desejava aumentar o potencial turístico do local. Ao ser perguntado se lá funcionava um cassino, reagiu:

- Sabia que o jogo é proibido no Brasil? Está insinuando que estou praticando contravenção? Estão confundindo o castelo com o Museu do Louvre. Ele não está nem acabado, o interior está vazio, não tem móvel, não tem nada. A ideia inicial era fazer um hotel.

Edmar narrou sua vida. Disse que veio de família pobre, de nove irmãos, e que se formou numa escola rural em São João Nepomuceno. Contou que, já na Polícia Militar, pediu para ser reformado como capitão a fim de trabalhar no ramo de segurança.

- Completo 70 anos semana que vem. Tive uma vida dura de trabalho e seriedade. Iniciei o castelo em 1982 e terminei em 1990. Sobre o dinheiro para as obras, tenho tudo lançado no Imposto de Renda. Estou providenciando as notas. Foi o trabalho de uma vida.

oglobo.com.br/pais