Título: Custo de crédito pode variar mais de cem vezes
Autor: Rodrigues, Eduardo; D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 06/02/2009, Economia, p. 23

BC divulga ranking de juros cobrados por instituições financeiras. Taxa de crédito pessoal vai de 13% a 1.418% ao ano.

BRASÍLIA, SÃO PAULO e SÃO SALVADOR DO TOCANTINS (TO). Uma mesma modalidade de crédito pode ter custo anual para o consumidor cem vezes maior em um banco do que no seu concorrente. É o que mostra o ranking simplificado com a comparação dos juros cobrados nas principais modalidades de crédito que o Banco Central (BC) destaca em sua página na internet desde ontem. O caso do crédito pessoal, que pode sair mais caro que o cheque especial, é exemplar. Enquanto a financeira Crefisa, em média, cobra 1.418% ao ano (25,44% ao mês) para o empréstimo, o banco Société Générale cobra 13% ao ano, em média, (1,02% ao mês).

O Société só oferece este empréstimo a funcionários, mas, mesmo considerando o próximo no ranking, a diferença seria enorme. A financeira Barigüi tem a segunda menor taxa, com 22,3% ao ano (1,69% ao mês). Os juros da Crefisa, portanto, são 63 vezes maiores.

Instituições menores tendem a cobrar taxas mais altas

O ranking do BC leva em conta taxas cobradas entre 19 e 23 de janeiro e pode ser consultado no endereço eletrônico (www.bcb.gov.br), logo na capa, na seção "Destaques".

Pelo levantamento, que apresenta tabelas para cheque especial, crédito pessoal, aquisição de veículos e aquisição de bens, de forma geral, financeiras e instituições de menor porte - aquelas que não são reconhecidas como bancões de varejo - têm as taxas mais elevadas.

Na comparação entre instituições financeiras públicas e privadas, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal levam vantagem sobre os bancos privados nas quatro modalidades.

Transpondo os juros para um financiamento real, é possível ter uma noção melhor da diferença. Tomando-se a taxa mais alta para aquisição de bens entre as 52 apuradas pelo BC - da financeira Itaucred, de 11,15% ao mês - um refrigerador de R$900, parcelado em 24 meses, sairia a R$1.736,70. O mesmo produto, com os juros mais baixos do ranking - de 1,01% ao mês, do banco Ourinvest - , sairia a R$1.029,36.

- Chega a ser um absurdo. Não há nada que justifique determinados valores de juros. O ranking, neste sentido, é importante para estimular a competição entre as instituições - afirmou o diretor de Economia da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Andrew Frank Storser.

Ele lembra, porém, que os juros cobrados pelas instituições em cada modalidade variam de acordo com o valor do crédito e o perfil de risco dos clientes. O ranking usa como parâmetro a taxa média mensal cobrada por cada instituição.

Lula volta a defender ações para reduzir "spreads"

Para o diretor de Administração e Finanças do Sebrae Nacional, Carlos Alberto dos Santos, o acesso facilitado aos dados permitirá também às empresas tomadoras de crédito - especialmente as pequenas - melhores condições de negociação com os bancos.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem ações para reduzir os spreads(diferença o custo de captação e quanto o banco cobra ao tomador) e os juros bancários, mas afirmou que o governo agirá com responsabilidade:

- Não haverá um gesto de irresponsabilidade da parte do governo, porque sabemos como foi difícil chegar até aqui. Não vou tomar nenhuma atitude que seja insana e que possa jogar fora o patrimônio de credibilidade que construímos.

O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Fábio Barbosa, elogiou a iniciativa do BC.

- É superimportante que se dê visibilidade (às taxas) para que as pessoas façam a escolha que melhor lhes convier.

Em seu primeiro balanço incorporando o banco Real, o Santander anunciou ontem que encerrou 2008 com lucro líquido de R$2,8 bilhões, valor 3,7% maior que a soma dos resultados das duas instituições em 2007. Terceiro maior banco privado do mercado brasileiro, o Santander contabilizava ativos totais de R$315 bilhões no final de dezembro, com patrimônio líquido de R$23,5 bilhões.

COLABOROU: Luiza Damé, enviada especial

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