Título: Bispo cobra de Lula reforma agrária
Autor:
Fonte: O Globo, 07/02/2009, O País, p. 4

Dom Tomás Balduíno critica o governo em enterro de deputado petista

PORTO ALEGRE. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acompanhou ontem a cerimônia de despedida do deputado federal Adão Pretto (PT-RS). Evitou falar de política, mas ouviu, em pleno velório, uma crítica do bispo emérito de Goiás, dom Tomás Balduíno. O ex-presidente e conselheiro da Comissão Pastoral da Terra, conhecido pela defesa dos sem-terra, mostrou descontentamento com os rumos do governo federal ao homenagear o deputado morto, um dos fundadores do Movimento Sem Terra:

- Cadê a nossa reforma agrária? Deve se perguntar a quem é de direito.

Lula ficou em silêncio, olhando para o corpo do deputado. No seu discurso, falou por dez minutos, mas não respondeu ao bispo. Mesmo diante de centenas de militantes, evitou falar do governo. Lembrou dos 30 anos de amizade com Pretto e da morte da própria mãe, em 1980, para oferecer conforto aos nove filhos do deputado:

- Eu estava preso e a minha mãe são sabia porque a gente (Lula e seus irmãos) não queria. O delegado que me prendeu fez o gesto de me levar no enterro da minha mãe.

Em entrevista, dom Tomás repetiu as críticas:

- O governo tem sido muito tímido em relação às exigências da reforma agrária. A reforma agrária, pela Constituição, é feita com desapropriação de terras. E a desapropriação vem sendo evitada pelo governo porque mexe no poder dos aliados.

Lula passou uma hora e meia na cerimônia, no Cemitério Jardim da Paz, em Porto Alegre, ao lado dos parentes do parlamentar e do caixão, coberto com bandeiras do PT, do MST e da Via Campesina. Outras autoridades, entre elas oito ministros, ficaram no fundo do templo.

O corpo estava cercado por integrantes de movimentos sociais, que fizeram a maior parte dos discursos exaltando o trabalho de Pretto e atacando os latifundiários e o agronegócio. Como representante do PT, apenas o presidente estadual da sigla, Olívio Dutra, discursou.