Título: Diplomacia parlamentar
Autor: Fores, Heráclito
Fonte: O Globo, 07/02/2009, Opinião, p. 7

No Brasil, até recentemente, a política externa era assunto de diplomatas e "iniciados". Como no resto do mundo, o desenvolvimento dos meios de comunicação tem ensejado maior envolvimento dos cidadãos nos assuntos internacionais. É natural e desejável, já que o ideal democrático pressupõe o envolvimento das pessoas em diferentes atividades da vida do país, inclusive nos debates sobre políticas públicas, das quais as relações exteriores fazem parte.

A condução da política externa não se restringe a uma questão de governo, mas de nação, com a necessária participação e contribuição de diversos setores. Nesse aspecto, o Legislativo desempenha papel fundamental, por espelhar ampla variedade dos interesses sociais.

Mas, se a participação do Legislativo democratiza e dá maior legitimidade ao processo decisório de política externa no âmbito doméstico, há também outro vetor de ação legislativa direta, que se refere à divulgação do Brasil como meio de influenciar uma imagem mais favorável à promoção dos objetivos nacionais.

O Legislativo pode - e deve - participar desse esforço de difusão de uma imagem de país mais adequada à consecução dos interesses nacionais. À frente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal, nos últimos dois anos, tive a oportunidade de pôr em prática o que se convencionou denominar de diplomacia parlamentar.

Foram realizadas três grandes missões ao longo do ano passado: à Ásia; à África e à América Central e ao Caribe, num total de 15 países. Fugimos, assim, do chamado "circuito Elizabeth Arden" e fomos ver de perto realidades quase sempre mais próximas a nós, seja pelo grau de desenvolvimento, seja por laços históricos. Do Vietnã e do Timor Leste no primeiro grupo, passando por Angola e Nigéria no segundo, e Jamaica e Haiti, entre outros, no terceiro, pudemos estreitar laços comerciais, esportivos, culturais, políticos.

Como resultado, estabelecemos novos canais de diálogo com aqueles países, firmamos importantes intercâmbios na área da cooperação legislativa, ampliamos o conhecimento que eles têm sobre nossas potencialidades e sobre o que estamos fazendo em direção à modernidade, aprimoramos, enfim, nosso entendimento de mundo. Este o imprescindível papel da diplomacia parlamentar como instrumento de política externa.

HERÁCLITO FORTES é senador (DEM-PI) e presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado.